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Marcus Vinícius de Ávila Furtado

1978 - 2021

Aficionado por futebol, fez das brincadeiras de infância uma oportunidade de negócio quando homem adulto.

O terceiro em uma família de quatro filhos, Marquinhos, como era chamado por todos, “só não virou craque de bola porque não teve incentivo”, conta logo de cara a irmã Mônica. Herdou a habilidade do pai e nutriu a paixão pelo esporte praticamente ao longo de toda a vida: na adolescência, participava de campeonatos nos clubes da cidade de Uberlândia, em Minas Gerais, onde cresceu. Já adulto e realizando o sonho de voltar à terra natal, construiu uma quadra de futebol society – denominada “Show de bola” – que alugava para praticantes amadores da pequena Serra do Salitre (MG). Também integrava a diretoria do Nacional, o clube local. Mas quando a torcida era para ser profissional, Marquinhos vestia a camisa do Flamengo, seu time favorito, ao lado do filho Felipe, a quem também influenciou no gosto pela bola.

Esse lado descontraído escondia-se no jeitão calado e introvertido de Marquinhos no dia a dia. Desde os tempos de escola, era sistemático, fechado e levava as coisas a sério, na contramão do irmão mais novo, o companheiro sociável das brincadeiras e aventuras de infância. “Teve um tempo em que meu irmão sumia todas as tardes, era menino ainda. Daí meus pais descobriram que ele ia trabalhar escondido para ganhar seu dinheirinho”, relembra Mônica, com diversão.

Filho de uma professora e de um bancário, formou-se em Administração de Empresas, depois de também começar o curso de Computação. Ajudou a administrar a padaria de uma tia, até que assumiu o mandato de Secretário de Finanças da sua amada cidade. A irmã ressalta a retidão e responsabilidade de Marquinhos. “A cidade virou outra. Ele saía com a família para dar volta de carro e ia fiscalizando o que visse de errado nas praças, ruas”. Estava no seu segundo mandato como administrador das finanças do município e, na opinião popular, era um forte candidato a ser prefeito, embora ele próprio negasse qualquer desejo nesse sentido.

Mesmo de poucas palavras, Marquinhos era amigo de todas as pessoas e não fazia diferença entre ricos, pobres, remediados. “Era humano, generoso, tratava com igualdade”, completa Mônica. “Tinha um caráter ímpar.”
Casado com Juliana e pai de Pedro, seu primogênito, fazia dos encontros familiares dominicais na casa da mãe o relaxamento total. “Adorava churrasco e uma cervejinha.” Era a ocasião propícia para soltar a voz desafinada ao som do violão tocado pelo irmão e cantar suas músicas sertanejas preferidas. Pronto, a alegria tomava conta da sisudez!

Marcus nasceu em Serra do Salitre (MG) e faleceu em Uberlândia (MG), aos 42 anos, vítima do novo coronavírus.

Tributo escrito a partir de testemunho concedido pela irmã de Marcus, Mônica de Ávila Furtado de Figueiredo. Este texto foi apurado e escrito por jornalista Fabiana Colturato Aidar, revisado por Bettina Florenzano e moderado por Rayane Urani em 29 de junho de 2022.