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Maria Alice Alves de Sousa

1965 - 2020

Boa de papo, aproveitava esse dom para fazer novas amizades e espantar a solidão.

Geniosa, forte e teimosa, assim era Maria Alice. Gostava muito de sair para passear, estava sempre sorrindo e contando novidades. Dona de um coração enorme, tinha prazer em ajudar.

Também era vaidosa. Para sair, passava lápis preto e batom ─ sempre na cor marrom. As unhas, também impecáveis, de preferência eram pintadas de vermelho.

Foi uma ótima mãe para Moacir Júnior e a caçula Jennifer. "Ai de quem falasse algo errado para seus filhos! Ela virava uma leoa", conta Jennifer.

Era fã de forró e música sertaneja, principalmente da dupla Leandro e Leonardo. Diariamente, enquanto lavava roupas ou cozinhava, ouvia em volume bem alto o rádio ou fitas cassete e cantava junto músicas como "Não olhe assim" e "Talismã", suas preferidas.

"Fazia questão que eu ligasse para ela todos os dias, era preocupada. A primeira coisa que fazia ao receber seu pagamento era colocar créditos no meu celular para eu não deixar de dar notícias", conta a filha, que acredita que essa relação não era apenas por serem mãe e filha. "Havia algo a mais", completa ela.

Maria Alice sempre sonhou em ser mãe de uma menina e, quando engravidou de Jennifer, o exame de ultrassom não conseguiu revelar o sexo do bebê. Mesmo assim, manteve-se convicta, durante toda a gestação, que viria uma menininha. E veio! Jennifer nasceu com duas marcas na orelha, como se fossem um par de brincos, o que representava para a mãe a força do desejo realizado ao ser presenteada com uma filha.

Era devota de Nossa Senhora Aparecida e partiu na véspera do dia em que é celebrada a padroeira do Brasil, deixando na casa, nos corações e na vida de cada um dos seus um enorme vazio.

"Vai, saudade, diz pra ela
Diz pra ela aparecer
Vai, saudade, vê se troca
A minha solidão por ela
Pra valer o meu viver."

(Trecho da música "Talismã", cantada por Leandro e Leonardo)

Maria nasceu em Nazaré do Piauí (PI) e faleceu em Campo Largo (PR), aos 54 anos, vítima do novo coronavírus.

Tributo escrito a partir de testemunho concedido pela filha de Maria, Jennifer Aparecida Quintino. Este texto foi apurado e escrito por Lígia Franzin, revisado por Paola Mariz e moderado por Rayane Urani em 23 de fevereiro de 2021.