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Maria Aparecida da Conceição Batista

1948 - 2020

A costureira que teceu a vida com fios de gentileza e amor.

Cida teve uma infância com poucos recursos. Estudou só até a 4ª série e nem podia imaginar a emoção que sentiria no dia em que seu filho mais velho se tornou professor. Trabalhou muitos anos na Volkswagen, costurando capas de bancos para carros e, a partir de 1982, passou a se dedicar exclusivamente à família. Fez isso com tanto amor, que fica até difícil para seus filhos encontrarem palavras que expressem o tanto que receberam e o tanto de reconhecimento que sentem por ela.

Marcelo, o mais velho, conta que toda vez que se encontravam, ela dizia: “Filho, eu te amo”. Isso até seus últimos dias, mesmo internada no hospital. Alexandre, o segundo filho, diz que ela veio para ensinar o amor ao próximo e o ajudou a ser uma pessoa melhor: “Ela abria mão de si mesma para ajudar os outros”.

Aimée, a mais nova, filha adotiva, relembra as palavras amorosas que a mãe lhe disse: “Ela me explicou de uma forma bem simples que não importavam os laços de sangue e que havia me gerado com o coração, embora não tenha me carregado na barriga”.

Entre os familiares, era chamada de Dinha. Tinha paixão pelos filhos e se encantava com as netas Maithê, Vitória e Maria Luísa, sempre paparicando as três. Muito correta, não gostava de fofocas. Mesmo sendo uma mulher tranquila, era tomada por indignação e braveza se alguém ousasse fazer injustiça com seus filhos ou falasse mal deles. Os três são unânimes em relação às qualidades da mãe: gentil, solidária, cuidadosa, sempre disposta a ajudar, disponível para ouvir quem vinha buscar seu conselho, positiva.

Mulher muito forte, que nunca se deixou abater, nem mesmo no momento mais difícil de sua vida, quando perdeu o marido João Carlos Batista, em 2006, morto por uma bala perdida. “Ela sempre falava que a gente só não dá jeito pra morte. No resto, tudo se resolve com paciência. Isso é uma das coisas mais importantes que ela ensinou pra mim e para os meus irmãos”, afirma Aimée.

Além disso, gostava muito de assistir novelas e tinha o dom da culinária. Gostava de fazer comidas diferentes, anotava as receitas que via na TV e sentia muito prazer em ver os filhos comendo bem. Aimée aprendeu a cozinhar com a mãe e segue o mesmo caminho: “Fico feliz quando meus irmãos, cunhadas e sobrinhas falam que eu cozinho igual a ela”.

Maria nasceu em Suzano (SP) e faleceu em São Paulo (SP), aos 71 anos, vítima do novo coronavírus.

Tributo escrito a partir de testemunho concedido pelo filho de Maria, Alexandre Alberto Batista. Este texto foi apurado e escrito por jornalista Bettina Turner, revisado por Lígia Franzin e moderado por Rayane Urani em 28 de junho de 2020.