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Maria Costa de Sá

1937 - 2020

Foi a personificação de um amor incondicional por todos que a rodeavam.

Independentemente do papel que ocupasse, era sempre chamada de um jeito especial: vovó Ita, irmã Ita, mãezinha ou Maria Ita. O apelido surgiu a partir da harmonia com o nome de seu esposo, que se chamava João Rita, por isso, acompanhou a rima e ficou conhecida por Maria Ita.

A compatibilidade com seu único companheiro de vida foi além dessa combinação de nomes, pois a união por mais de quatro décadas resultou em ganhos incalculáveis. A começar pelos dez filhos, sendo sete gerados por Maria Ita e três que vieram na companhia de João Rita ao se casarem. “Todos eram igualmente amados, de tal forma que não se via nenhuma distinção”, frisa a neta Rosana.

Não havia sentido em ser o contrário já que Maria Ita exalava uma de suas maiores virtudes: amor incondicional. Dedicou-se a demonstrar um amor pleno e absoluto, daqueles sem limites, sendo capaz de acrescentar em sua existência a possibilidade de ser fonte de positividade e boas energias.

Como uma mulher de fé e com Jesus Cristo entre suas grandes paixões, fazia de Seu exemplo, que tanto admirava, uma oportunidade de pregar perdão, empatia e compaixão. Seguindo esses passos, estendeu seu amor a patamares onde o preconceito não pôde fazer morada e, com isso, acolheu com respeito e carinho a homossexualidade da neta, não deixando de querer tanto Rosana quanto a companheira sempre por perto. Apesar de manter suas convicções, optou por preservar a união e praticar a gentileza entre os seus.

“Todos que se relacionaram com essa mulher magnífica têm marcas do seu profundo amor. Tinha o dom de cuidar do próximo, fossem seus familiares, amigos, gatinhos e plantinhas”, é como descreve Rosana sobre uma singela parte de quem foi a avó.

Lembranças tocantes e memórias afetuosas foram deixadas em abundância por Maria Ita para todos que tiveram a sorte de dividir um pouco da vida com ela. Uma delas, lembrada com muito apreço pela neta Rosana, ocorreu alguns anos antes de sua partida, num entardecer na Praia da Tartaruga, em Rio das Ostras (RJ). Entre uma caminhada e muitas conversas, vovó Ita aconselhava, distribuía risadas e dedicava seu bem mais precioso ─ o tempo ─ à Rosana e Enzo, também seu neto.

Outras recordações de ternura por parte da avó são lembradas por Rosana:

“O jeito que sempre nos aninhava em seu quarto para dormir quentinhos, o seu arroz com feijão, as músicas autorais que cantava ou inventava pra gente rir... A vovó sempre vivia cercada de pessoas, plantas e bichinhos, porque ela era puro amor incondicional de Deus. Sempre semeando amor, perdão e compaixão. Que passagem incrível pela Terra!”

Cantar e compor estavam entre as coisas que lhe traziam alegria. Seu canto foi uma das últimas palavras que expressou através de áudios que enviou quando já estava em uma CTI, por uma das músicas autorais chamada “Jesus preparou meu coração e prepara o seu também". Maria Ita também fez questão de recomendar: “Minhas filhas, quero que fiquem tranquilas, porque eu estou sendo cuidada por anjos e estou ligada com nosso Deus”.

Por tudo que representou no plano terrestre e continuará representando por toda a eternidade, pode-se resumi-la da seguinte forma, pelo olhar de sua querida neta:

“Vovó Ita é a prova real de que Deus existe e de que Ele é puro amor!”

Maria nasceu em Salvador (BA) e faleceu em Rio das Ostras (RJ), aos 83 anos, vítima do novo coronavírus.

Tributo escrito a partir de testemunho concedido pela neta de Maria, Rosana de Sá. Este texto foi apurado e escrito por jornalista Júllia Cássia, revisado por Lígia Franzin e moderado por Phydia de Athayde em 13 de janeiro de 2021.