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Maria das Graças da Silva Rocha

1965 - 2020

Católica, devota de São Francisco e fã de Amado Batista; para ela, a vida era como uma luz.

Quando Ruane descreve a mãe, a palavra que usa é “guerreira”. Quando lhe é perguntado o porquê de escolher tal palavra, para ela, é fácil dizer o motivo. Maria das Graças foi uma mulher que não precisou estar em um campo de batalha para travar verdadeiras guerras durante sua jornada.

Jovem, no interior piauiense, assumiu a responsabilidade de cuidar de oito irmãos após a morte precoce do pai. Arranjar um emprego não era fácil na região que morava, mas sempre correu atrás. Mais tarde, precisou trabalhar em casas de família para sustentar as duas filhas que criava sozinha e, com o avançar da idade, ainda lutou contra doenças crônicas, porém nada disso tirou sua fé ou vontade de viver.

Muito católica e devota fiel a São Francisco, mantinha no próprio quarto um cantinho para orações e uma imagem do santo. Lá, ela sempre acendia uma vela e se dirigia a Deus. Em muitas das conversas com Ele, entregou o bem-estar da própria família, sua prioridade. Ela costumava dizer “A vida é como uma luz". Isso seria por que, assim como a luz daquela vela, a vida podia se apagar em um sopro? Ou por que os momentos especiais fazem dela mais iluminada? Respostas essas só poderiam ser dadas com precisão por Dona Maria.

Ela foi alma disposta a ajudar as pessoas. Tinha o hábito de ir à casa da sogra e das vizinhas que moravam perto fazer as tarefas diárias, agiu assim até quando a saúde permitiu. Não ligava muito para vaidades, mas não podia deixar de passar seu batom. Prestativa e mãe trabalhadora, logo se tornou a avó coruja quando o menininho Heytor chegou. “Lembro bem quando meu filho era recém-nascido e acordava no meio da madrugada, ela fazia questão de levantar do quarto dela e ficar com a gente até ele pegar no sono, jamais vou esquecer disso”, recorda Ruane.

Além do amor pelas filhas, marido e neto, Maria tinha também uma outra paixão. Seu nome era Amado Batista. Foram inúmeros os dias em que as canções dele embalaram sua rotina. Fã desde nova, admirava demais o cantor.

“Fazia um dia bonito quando ela chegou. Era uma tarde tão triste quando ela partiu”, diz os últimos trechos da música "Folhas Secas", de Amado e, de fato, a partida dela causou tristeza; como a luz daquela vela, seu existir apagou-se de repente, mas o brilho de Maria jamais será esquecido por aqueles que a amaram.

Maria nasceu em José de Freitas (PI) e faleceu em Teresina (PI), aos 54 anos, vítima do novo coronavírus.

Tributo escrito a partir de testemunho concedido pela filha de Maria, Ruane Lorena da Silva. Este texto foi apurado e escrito por Yasmim da Silva Tabosa, revisado por Lígia Franzin e moderado por Rayane Urani em 26 de outubro de 2020.