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Maria das Graças Marques Corrêa Ribeiro

1955 - 2021

Gracinha sempre separava para a filha uma peça especial da confecção.

Maria das Graças era conhecida carinhosamente por Ni, Gracinha e Graça. Era Ni para os irmãos, Gracinha para o esposo Jorge e amigos mais próximos, e Graça para as demais pessoas.

Quando, aos 19 anos, perdeu o pai, Edmundo, Gracinha tinha sete irmãos. Como era uma das quatro filhas mais velhas, ajudou a mãe, Maria Anna, a cuidar dos quatros mais novos, principalmente os três menores: Patrícia, Valéria e Edmundo. Para os três, Ni foi uma mãezona.

De seu amor e casamento com Jorge, o fruto não poderia ser melhor. Tiveram uma única filha, Mayara.

Saudosa, Mayara recorda: “Meus pais se conheceram na empresa em que trabalhavam juntos, a Telewatt, em Petrópolis, e meu pai falava que minha mãe foi muito 'marrentinha' e demorou para dar ideia para ele. Começaram a namorar na festa de Santo Antônio.”

Gracinha era muito grudada ao cachorro da filha, Burpee. O carinho era tão grande que ela considerava o animalzinho um neto. “Quando fui morar em Portugal, no ano de 2019, meus pais ficaram com o meu cachorrinho. Minha mãe fazia chamava de vídeo com o Burpee para mim, como se fosse uma criança. E ela dizia que quando ele ouvia me voz ficava agitado, animado", conta a filha.

“Minha mãe era do signo de Escorpião e bem brava. Mas não brigava com as pessoas. Desabafava bastante comigo quando se sentia chateada e, na maioria das vezes, ficava na dela. Acho que muitas vezes guardou tristezas para si, para não incomodar ninguém. Eu logo percebia quando ela estava triste e fazia com que ela me contasse o que havia acontecido. Ela foi minha melhor amiga, e eu, a dela”, lembra Mayara, referindo-se a todos os momentos de cumplicidade e amizade que as duas compartilharam.

"Sempre disse a minha mãe o quanto a amava, todos os dias. Não deixei de dizer nada a ela, e isso de certa forma me conforta.”

A filha relembra carinhosamente os pratos que a mãe fazia com tanta dedicação: “O bolo de cenoura era uma especialidade, e a farofa fazia muito sucesso". Ela acrescenta: “Minha mãe dedicou a vida à família e a mim - recordo de quando me levava para o balé, para a escola. Estava sempre ao meu lado, me apoiando e incentivando. Abriu mão de muita coisa para me ver formada em Odontologia. De alguma forma, se realizou por meu intermédio, ao me ver bem e feliz”.

“Aprendeu a costurar bem novinha, mas depois parou e foi morar na cidade de São Paulo, após o casamento. Ao retornar para Petrópolis, costurava numa confecção familiar - minha mãe e amiga Aparecida, uma senhora que tinha um carinho materno por ela. Minha mãe fazia roupas para lojas e sempre pegava um modelinho para mim quando achava que era a minha cara. Detestava quando lhe pediam para fazer bainha nas calças. Reclamava de uma forma carinhosa: não era de fazer ajustes, preferia pagar para uma vizinha fazer”, relata a filha. A costura foi a profissão de Graça até seus últimos dias de vida.

Mayara lembra com saudade dos almoços de domingo. E fala de vários momentos marcantes da mãe: “Era baixinha, nossa baixinha. Era a louca da limpeza - amava ver a casa arrumada. Amava ir à praia, mas no mar só molhava os pés. Tinha muitas sardas, marcas de muitas praias e muito sol. Morria de medo de baratas: quebrava a vassoura, mas não acertava uma barata. Dormia no sofá, vendo a TV, mas se trocássemos de canal ela acordava na hora. Me ensinou a bordar e a fazer tricô. E como era vaidosa - queria sempre estar na moda, cabelo retocado e unha feita - e parecia muito mais nova do que era”.

A filha faz uma última homenagem a sua amada mãe: “Mãe, Ni, Gracinha, Graça, infinitos nomes carinhosos para uma pessoa que espalhou amor por onde esteve. Foi sempre cuidado, sempre doação. Amor na comida, amor no cafuné, amor nas ligações e mensagens para saber se estávamos bem. Sempre colocou a família em primeiro lugar e doou a vida por todos. Não tem como não amá-la. Além de tudo, foi força e coragem”.

Maria das Graças deixou um legado de amor, admiração e muita alegria. A dedicação à família e sua maneira leve de levar a vida foram as maiores lições que ela deixou.

Maria nasceu em Petrópolis (RJ) e faleceu em Petrópolis (RJ), aos 65 anos, vítima do novo coronavírus.

Testemunho enviado pela filha de Maria, Mayara Maria Marques Ribeiro. Este tributo foi apurado por Larissa Reis, editado por Thalita Ferreira Campos, revisado por Fernanda Ravagnani e moderado por Rayane Urani em 27 de julho de 2021.