1953 - 2020
Pacotes de presentes, cestas de café da manhã e passeios em Fortaleza eram sua cara e marca registrada.
Mãe ou Graça, era como gostava de ser chamada.
Teve uma infância de poucas posses, mas muito feliz, no interior de Manacapuru, num período em que tudo se tornava brincadeira. Gostava de contar que, quando iam para escola, as meninas escondiam a merenda em cima de uma árvore para os meninos não pegarem, e que se recordava da casa de farinha, dos passeios de canoa e do cheiro de lenha queimando. Era muito ligada à sua mãe, Cidália, e fazia tudo por ela. Amava irmãs, irmãos, sobrinhas e sobrinhos.
Era muito apaixonada pelo marido Abdon e foram casados por mais de quarenta e cinco anos, vivendo uma mistura de amor, cuidado e ciúmes, que, de tão grandes, pareciam ser até exagerados.
Foi mãe de Elisangela, Patrici e também de Junior e Jefferson, que faleceram antes dela. Foi avó de Rodrigo e Rafael, de Cida, Carol, de Sophia e Myllena, e era “uma mãe especial e uma avó sensacional” nas palavras da filha Elisangela, que ainda acrescenta: “Ela era tudo pra nós, quem puxava nossa orelha para nos direcionar e quem nos amava como ninguém. Ela amava cheirar a cabeça das minhas filhas, Sophia e Myllena, e dizia que era um cheiro único”.
Abriu mão de trabalhar fora para cuidar da família e seguiu fazendo artesanato e cestas de café da manhã, nunca deixando de ter o próprio dinheirinho para suas necessidades pessoais, para comprar as coisas para os filhos e para viajar para Fortaleza.
Amava cozinhar para os filhos e gostava muito de fazer café fresquinho e batata frita. Era um prazer para Graça sentar-se para comer o pão francês que Elisângela levava quentinho para a mãe, junto do café e da banana.
Caprichosa, a casa tinha que estar sempre limpa. Vaidosa, não saía sem passar o batom e sem levar sua bolsa. Dizia que, se um dia ela fosse internada, que nunca deixassem seu cabelo bagunçado.
Adorava presentear as pessoas. Se as filhas e os netos passassem por sua casa, saíam no mínimo com um pacote de bolacha para que não fossem de mãos vazias. Presenteava todo mundo nos aniversários sem se esquecer de ninguém. Filhas e netos tinham direito a presentes especiais: uma cesta de café da manhã e outra de presentes.
Elisangela destaca que a força de Graça sempre foi muito marcante, até quando perdeu dois filhos: em meio à dor de sua perda, ainda conseguia amar e cuidar dos que ficaram. Conta que seus maiores ensinamentos foram o de que “família é tudo; que devemos cuidar uns dos outros; que pelos filhos devemos fechar os olhos para os outros problemas, e que devemos trabalhar para ter dinheiro, mas que devemos sempre viajar para aproveitar”.
“Mãe, hoje eu choro de saudade pelo que eu deixei de fazer pela senhora", despede-se Elisangela. "Queria ter feito mais, ter tomado mais café quando a senhora me chamava, ter deixado mais as minhas filhas com a senhora, nossa família ficou estranha e distante depois que a senhora se foi, a senhora sempre foi a base de tudo".
"Todos nós — seu marido, suas filhas e netos — te amamos demais e sentimos muito a sua falta!”
Maria nasceu em Manaus (AM) e faleceu em Manaus (AM), aos 67 anos, vítima do novo coronavírus.
Testemunho enviado pela filha de Maria, Elisangela Bieler. Este tributo foi apurado por Denise Stefanoni, editado por Vera Dias, revisado por Maria Eugênia Laurito Summa e moderado por Ana Macarini em 6 de março de 2023.