1927 - 2020
Vinham de longe para comprar a farinha de tapioca dela, que era a melhor de toda Manacapuru.
Ser viúva com três filhos, em meados dos anos 50, não era para qualquer mulher. Mas para "Jesus", isso foi motivo de força e determinação.
Primeiro, trabalhava duro na roça e depois, ia para a frente da Usina vender suco de limão e bolo de macaxeira, que o filho mais velho tinha deixado prontos.
Sozinha e com seus três filhos para criar, acabou recebendo uma proposta para se casar novamente. O pretendente era seu cunhado, irmão do falecido marido, que também era viúvo e que, como ela, também tinha três filhos: duas meninas e um menino. Foi assim que formaram uma nova família, agora com seis filhos. E juntos viveram por mais de 60 anos, trabalhando juntos, na roça e na venda, até o dia em que ele se foi.
"Uma curiosidade do casal, era que Sr. Luiz, assim como ela, era genioso que só, falasse mal de algum de seus filhos para ver o que acontecia... ele virava o cão. Era tão bravo, que era conhecido como "Luiz Cão". Essa é a única história do mundo em que Jesus era 'casado' com o Cão!", diverte-se contando Rosalina.
Cozinheira de mão-cheia, na época, ela sabia fazer o melhor pé de moleque e a melhor farinha de tapioca de toda Manacapuru, e na sua venda tinha freguesia certa para seus produtos, e só tinha clientes importantes, entre políticos e empresários. Inovou na culinária fazendo dindin de salada de frutas, hoje conhecido como "dindin gourmet"... todos achavam delicioso! Os netos, quando eram crianças, brigavam entre si para ver quem ia passar as férias na antiga Casa de Farinha com ela.
Católica de carteirinha e "devotíssima do Divino Espírito Santo", mesmo depois de uma cirurgia malsucedida nos olhos que a deixou cega, nunca perdeu a fé, nem a lucidez; dizia que se chegasse um novo pretendente para ela, aceitaria na hora.
Jesus deixou um legado e muitas saudades.
Maria nasceu em Manacapuru (AM) e faleceu em Manacapuru (AM), aos 91 anos, vítima do novo coronavírus.
Tributo escrito a partir de testemunho concedido pela neta de Maria, Maria Rosalina da Silva Lima. Este texto foi apurado e escrito por jornalista Alessandra Capella Dias, revisado por Lígia Franzin e moderado por Rayane Urani em 25 de junho de 2020.