Sobre o Inumeráveis

Maria de Lourdes Alves de Oliveira

1950 - 2020

Não encontrava nenhum obstáculo para oferecer seu teto e seu aconchego a quem quer que precisasse.

É impossível falar de Maria de Lourdes sem citar amor, entrega e família. Fazia tudo para estar sempre no meio dos que amava. Não pensava duas vezes em dar abrigo aos seus queridos. Seu lar, no fundo, não era só dela, do marido e filhos. Era de todos. Cuidava com amor de sua mãe, por quem tinha uma verdadeira admiração. Assim que pôde, levou-a para sua casa, para que não lhe faltasse atenção. Tinha muitos irmãos que, ainda solteiros, moraram com ela para que a mãe não precisasse se preocupar. Sempre tinha espaço para mais um em seu coração e seu teto.

Além deles, Maria trazia para seu aconchego qualquer familiar que estivesse precisando, mas também pessoas de fora. Quem passasse em sua porta na hora do almoço, observava que sempre tinha movimento, já que os moradores da rua também recebiam seus cuidados e aproveitavam a refeição que ela oferecia. Ela realmente abraçava as pessoas com seu coração caridoso e generoso. “Se ela sabia que tinha alguém doente...lá ia levar uma sopinha e um carinho”, lembra a filha Elaine. Nos seus momentos de descanso, gostava de ir para a casa que tinha no interior, junto com a família.

Maria de Lourdes gostava de fazer suas comprinhas no Brás, um bairro em São Paulo, todinho voltado para o comércio. Era toda independente e ia sozinha mesmo, por mais que falassem que era perigoso. “Quando piscava, ela já tinha ido e voltado, não dependia de ninguém pra nada” - lembra a filha. Amava a própria companhia, mas sabia que, no fundo, seu coração ficava sempre junto da família.

Não se pode deixar de lembrar de uma parte cheia de carinho da rotina semanal, que nunca era deixada de lado: a reunião que ela fazia questão de ter aos domingos, no café da manhã, com todos os filhos, que iam para a casa dela colocar as fofocas em dia, dar risadas e ela oferecia o ombro quando o assunto era mais complicado.

Nas palavras de Elaine, Maria de Lourdes “trazia em si a mistura perfeita de amor, doçura, bondade e força. Parecia um ser encantado, quem sabe um anjo disfarçado de gente?! Tinha um coração enorme que mal cabia no peito. Estava sempre presente com um sorriso no rosto, um abraço caloroso, uma palavra de afeto, sempre pronta para minimizar os momentos de dor e sofrimento. Ela conseguia encontrar felicidade nas pequenas coisas”. E suas lembranças serão doces e aconchegantes, do mesmo jeitinho encantador que Maria era.

Maria nasceu em Mococa (SP) e faleceu em São Paulo (SP), aos 70 anos, vítima do novo coronavírus.

Tributo escrito a partir de testemunho concedido pela filha de Maria, Elaine Alves de Oliveira Silva. Este texto foi apurado e escrito por jornalista Gabriela Pacheco Lemos dos Santos, revisado por Bettina Florenzano e moderado por Rayane Urani em 9 de julho de 2021.