1934 - 2020
Para ela não existia tempo ruim. Uma avó que, se pudesse, segurava todo mundo com as mãos.
Em qualquer família, sempre existe aquele que cai e aquele que segura. Vovó Lourdes fazia parte do segundo grupo. "Se pudesse, segurava todo mundo com as mãos." Atenciosa e sempre dedicada à família, a alagoana construiu sua vida em Sergipe. Foi lá que viu os três filhos crescerem e os netos aprenderem a andar. Uma avó presente. Fez questão de estar em todos os batizados e aniversários.
Para ela, não existia tempo ruim. Mesmo doente, não gostava de dar preocupação a ninguém. Por isso, sempre foi difícil entender o que sentia. Bem-humorada, fazia graça mesmo em situações imprevistas. Certa vez, quando a neta advertiu sobre a importância de terminar a sopa, ela respondeu: "Vou lamber até o prato".
Uma mulher forte. Nunca deixou sua tristeza à vista. Foi, inclusive, "sua força que a mantinha viva".
Agora, para a neta, enfermeira, falar sobre sua avó é também uma forma de recuperar o tempo perdido. Torná-la presente e tornar-se presente, já que nos últimos dias a rotina não permitiu tantos encontros. Maria de Lourdes deixou recado: o tempo passa rápido e a vida, constante sopro, nunca prepara ninguém para dizer adeus.
Maria nasceu em Alagoas e faleceu em Aracaju (SE), aos 86 anos, vítima do novo coronavírus.
Tributo escrito a partir de testemunho concedido pela neta de Maria, Vanessa Menezes. Este texto foi apurado e escrito por jornalista Rafael Amorim, revisado por Gabriela Carneiro e moderado por Rayane Urani em 6 de setembro de 2020.