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Maria Divina da Silva Arantes

1950 - 2020

Era uma verdadeira criança crescida, amava andar descalça e se deliciava quando tinha mandioca com molho tártaro.

Dividiu a vida com Antônio, o companheiro de jornada, com quem construiu um casamento duradouro e uma família adorável. Juntos, passaram por todas as dificuldades da vida sabendo que os problemas são passageiros, mas o amor e o respeito são eternos. Mesmo depois de mais velhos, Maria ainda arrumava as roupas do esposo na hora do banho. Era o amor em forma de carinho e cuidado.

Tiveram cinco filhos e todos aprenderam sobre amor e afeto com o exemplo que veio desde sempre, de dentro de casa. O casal criou os filhos na estrada do bem e nos princípios da honestidade e do respeito. Os filhos sempre seguiram as orientações paternas, confiando em seus ensinamentos, pois acreditavam que os pais eram sua maior referência de bom caminho nesse mundo.

Maria Divina teve 18 irmãos, dentre eles uma igualzinha a ela, no sentido mais real que se possa imaginar. A gêmea Sandra Maria dividiu o útero, as dores e o amor com a irmã. Foram vizinhas de porta durante muito tempo e compartilhavam até um gosto peculiar: faziam questão de ir a velórios; é que ambas cultivavam esse dom de acolher a dor do outro e de acalentar a família que aqui ficava saudosa e sofrida pela perda. As duas eram unha e carne, e, quando uma adoecia, a outra sentia também; a alegria de uma era a felicidade da outra.

Simpática e querida, gostava muito de conversar com os vizinhos, que cativou facilmente por meio de seu jeito doce e amável. Tinha prazer em reunir a família e se divertir com os netos e bisnetos; fazia questão de mimar e, acima de tudo, amar os seus pequenos. Católica fervorosa, gostava muito de ouvir a música "O que eu sou sem Jesus", do padre Alessandro. Era devota do Divino Pai Eterno e de Nossa Senhora Aparecida.

Simples, dava imenso valor às pequenas alegrias da vida. Divertia-se ficando descalça igual criança, e às vezes, os papéis se invertiam e os mais novos é que precisavam puxar a orelha da Vó Maria. Amava mandioca com bastante molho tártaro, e se deliciava quando a comida preferida era preparada nas reuniões de família.

Com a partida de Maria Divina, o mundo perde um pouco de afeto e a Sandra perde uma parte de si, que se foi com a gêmea. É bem possível que Maria Divina tenha sido recepcionada do lado de lá por todos aqueles a quem ela prestou solidariedade na hora da partida.

Além disso, se um pequeno pedaço de todos que conheciam Maria se foi com ela, muito da avó querida e amada ficará para sempre no coração dos que a amavam. A saudade aperta, mas é temporária: o reencontro se dará em forma de muito abraço gostoso e chamego aconchegante e, quem sabe, com dois convidados muito especiais: O Divino Pai Eterno e Nossa Senhora Aparecida.

Quando chegar a hora, com certeza os santos vão amar conhecer as pessoas de quem Maria Divina tanto deve estar falando lá no céu; especialmente uma gêmea de alma, com quem dividiu o útero, o amor, e até as esquisitices.

Maria nasceu em Ituiutaba (MG) e faleceu em Rio Verde (GO), aos 70 anos, vítima do novo coronavírus.

Testemunho enviado pela neta de Maria, Luana Cristina Arantes dos Santos. Este tributo foi apurado por Lucas Cardoso, editado por Bárbara Aparecida Alves Queiroz, revisado por Ana Macarini e moderado por Lígia Franzin em 19 de abril de 2021.