1961 - 2021
Dizia gostar da pipoca queimada, para que as crianças pudessem ficar só com a que estava boa.
Ela amava histórias com finais felizes — aquelas em que o bem sempre vence o mal e a alegria supera o sofrimento. Assistia a filmes e séries e ficava brava quando não terminavam da maneira como ela gostava. Na vida de Maria do Socorro nem tudo aconteceu como ela previra: entre uma alegria e outra, uma tristeza... mas ela sabia que na ficção e na vida real a felicidade podia ser encontrada nas pequenas coisas. E não se cansava de procurar.
Maria encontrou o grande amor de sua vida ainda muito jovem. Casou-se aos 18 anos e logo deu início à sua família: teve três filhos, que dizia serem os seus maiores tesouros. Aos 37 ficou viúva. Perdeu seu amor e criou os filhos sozinha. Educou e formou todos eles, preparando-os para o mundo, e os viu sair de casa, para construírem a própria vida, cada um em busca do seu caminho.
Nascida para ser mãe, Maria foi a melhor de todas: a que tirava do próprio prato para dar aos filhos; que ficava com o queimado da pipoca ou do bolo, só para que as crianças pudessem ficar com a parte boa; e que sempre abria mão do último pedaço, alegando que estava satisfeita. E os filhos cresceram acreditando que a mãe gostava da pipoca queimada e do arroz e feijão sem a carne, quando na verdade tudo o que ela desejava era dar o melhor para eles, conta a filha Amanda. E se como mãe ela foi maravilhosa, como avó ela se superou: foi super, como em tudo que fazia.
Apesar de ser o pilar da família e aparentar ser forte como uma rocha, por trás daquela força e abnegação havia um ser humano com o coração partido: ela dizia que as cores já não eram tão vivas desde a perda de seu amor e pai de seus filhos; e apesar de ser tão vaidosa a apaixonada por cores, lá no fundo, padecia de uma "saudade cinzenta".
Só deixou boas lembranças. Era a Maria do sorriso contagiante com que recepcionava a todos. Das comidinhas deliciosas, pois era cozinheira de mão cheia. Impossível ir visitá-la sem sair carregando sacolas com comidas, acompanhadas de um monte de beijos, que ela fazia questão de dar. Era a Maria das risadas esfuziantes sempre que vencia no jogo de baralho com a família. Impossível não sorrir ao lado dela, que ainda tinha muitos sonhos a realizar, apesar de ter alcançado o maior deles: criar os filhos e vê-los bem.
Agora, Amanda acredita que a mãe está junto de seu pai, matando uma saudade de vinte e um anos sem a presença dele, e aproveitando um mundo novo onde as cores voltaram a ter sentido.
"Minha mãe, minha melhor amiga e a pessoa na qual me espelho. Como ela sempre falava pra mim: te amarei para sempre, mãezinha!"
Maria nasceu em Fortaleza (CE) e faleceu em Fortaleza (CE), aos 59 anos, vítima do novo coronavírus.
Testemunho enviado pela filha de Maria, Amanda Emília Nunes Quezado Praxedes. Este tributo foi apurado por Rayane Urani, editado por Rosa Osana, revisado por Maria Eugênia Laurito Summa e moderado por Rayane Urani em 13 de outubro de 2021.