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Maria Dulce dos Santos

1935 - 2020

Doce como seu nome, era cozinheira de mão-cheia e fazia da sua casa lugar de aconchego para quem passava.

Dulce, assim como o significado do seu nome, era muito doce. Mãe de cinco, ficou viúva cedo e enfrentou sozinha a criação dos filhos, por quem tinha grande carinho e depositava todo o seu amor. Mulher guerreira, pelo suor do seu trabalho não deixava nada faltar. Antes de passar em concurso público do estado potiguar, trabalhou como faxineira e lavadeira. Nas horas vagas, costurava, vendia salgados e doces, para ajudar nas despesas da família.

Foi moradora da cidade de Macau durante 60 anos, dos quais 44 viveu na mesma residência, na Rua Café Filho, conhecida como Rua do Cruzeiro. Em frente de casa, a Escola Estadual José Olavo do Vale foi o local onde trabalhou como merendeira por 30 anos. Mesmo aposentada, ainda era solicitada a ajudar a escola. Querida pelos alunos e professores, eternizava cada um em sua memória, principalmente quando recebia o carinho deles ao ser reconhecida nas ruas pela saborosa merenda que cozinhava.

Ao se aposentar, conciliava os afazeres domésticos com trabalhos artesanais, ocupação que lhe dava muito gosto. Era apaixonada por atividades manuais, em especial bordado e crochê, mas o que ela mais adorava era costurar. Também tinha o hábito de, quando desocupada, deitar-se na rede na sala de casa para ver TV até dormir.

A nora Maria Zilca conta que Dulce era uma mãe, avó e amiga como poucas. Respeitada por toda a família, tinha como marca registrada a receptividade. “Todos que chegavam em sua casa eram acolhidos de uma forma diferente, não tinha quem lá chegasse que sentisse vontade de partir”, descreve.

Maria Zilca ainda relata que, embora a sogra não tenha tido oportunidade para estudar, tinha uma elegância nata, demonstrada em sua forma de falar e agir. “Era uma mulher sábia, durante as conversas só falava se fosse chamada ao papo. Se não lhe fosse dada a palavra, ela nada dizia”, conta.

Em 2018, Dulce perdeu a filha Marta, vítima de um câncer. Porém, mulher forte que era, por muitas vezes conseguia sorrir, apesar do coração despedaçado, e transmitia paz e conforto a todos os familiares e amigos. Com a partida da filha, sonhava em ter todos os filhos por perto.

Dona de um coração leve, de palavras doces e com os braços abertos para receber e aconchegar, Dulce partiu, mas deixou um carinho na alma de quem por seu caminho cruzou.

Maria nasceu em Lajes (RN) e faleceu em Macau (RN), aos 84 anos, vítima do novo coronavírus.

Tributo escrito a partir de testemunho concedido pela nora de Maria, Maria Zilca dos Santos Costa. Este texto foi apurado e escrito por jornalista Gabriel Rodrigues, revisado por Paola Mariz e moderado por Rayane Urani em 3 de fevereiro de 2021.