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Maria Elizabeth Fernandes dos Santos

1953 - 2020

A avó costureira que fazia para os netos amados sacolinhas com pipocas e bombons em todas as festas.

Nascida em Brejo da Cruz, foi pra Recife ainda jovem, onde criou com amor sua família, junto ao esposo Antônio Almino. Tiveram três filhos: Antoniele Carme, Daniel e Danielly.

Beta, como era chamada pelos irmãos, tias e primos, ficou viúva quando os filhos eram adolescentes. Época difícil, mas enfrentada com muita força e superação, como conta a filha Antoniele: "Ela assumiu o papel de pai e mãe e nunca nos faltou o pão de cada dia. Com toda dificuldade, sua dedicação e carinho sempre foram maiores."

Nunca trabalhou fora, mas em casa, com sua máquina de costura era um primor. Das linhas, tecidos, botões e outros enfeites tirou nosso sustento por toda a vida.

Mulher guerreira e evangélica, Elizabeth gostava muito de ir à igreja. Sua fé inabalável transformava-se em força, ajudando-a a se manter sempre firme e com muita vontade de viver.

Seu maior sonho era ser avó e o realizou, através de Francielly, Sofia, Danielly e Davi. Amava paparicar esses netos e aproveitava seu dom na costura para fazer disso não apenas seu trabalho, mas também um prazer: como curtia fazer roupas para seus amores! E era cada vestidinho lindo pras meninas!

De total relevância, é falar sobre Júlia. Antes de ter netos de sangue, Elizabeth e Antônio adotaram como neta de coração a menina, filha de uma vizinha. A pequena, que hoje conta com 17 anos, tinha os dois como avós, sempre os chamando assim e se relacionando com toda a família da mesma forma. E foi a homenageada que ajudou a criá-la, com todo o amor de seu coração enorme e lindo.

Elizabeth gostava muito de passear, especialmente em shoppings. Seus prazeres gastronômicos eram empadão e bolo de noiva! Já açaí, também estava entre seus preferidos, mas não comia muito, preocupada com sua saúde. Antoniele lembra que a mãe era hipertensa, entre outros problemas de saúde. Mas complementa: "Já a 'galinha do fim do ano' não podia faltar! A mãe adorava galinha e peixe, de todo jeito. Mas no Natal e no Ano Novo não podia faltar a 'galinha dela' no forno. Podia faltar tudo, menos isso. Quanto maior, melhor, e se deixasse, ela comia toda ela sozinha!"

Como todo mundo, ela não escapava de ter suas manias. Era muito organizada e não parava um instante, com sua mania de estar sempre arrumando tudo. Gostava que ficasse tudo do seu jeitinho.

Isso a ajudava em seu lado festeiro. Elizabeth não deixava passar em branco os aniversários da família e gostava de organizar tudo. Às vezes, mesmo quando cansada, ai, ai se faltasse um bolinho! Tem um detalhe especial, destacado com carinho pela filha: em todas as festas, mesmo nas dos adultos, a avó amorosa costurava quatro sacolinhas e enchia com pipoca e bombons para distribuir aos netos. Como se diz: "era de lei".

Antoniele e sua irmã Danielly lembram que a mãe fazia uma canjica que era um sonho. De tão gostosa, chegou a vender e vinha gente de longe para comprar.

Elizabeth gostava de ajudar as pessoas e não era uma mulher de muitos amigos. Ela sempre dizia: "amigos se contam nos dedos". Mas os escolhidos, sempre podiam contar com palavras doces, conselhos e seu coração devoto.

Além do sonho realizado, essa mãe e avó tinha o sonho de voltar ao interior, onde nasceu, e rever seus irmãos, tias e o restante da família que deixou há muitos anos. Chegaram a planejar para abril, na quaresma, mas esse sonho foi interrompido com tristeza.

Antoniele finaliza a linda homenagem a sua querida mãe, com as palavras tristes e doces, que uma filha apaixonada e doceira conseguiu unir: "O vírus levou a pessoa mais especial da minha vida, e com ela, todos os meus sonhos. Minha mãe era mais que isso, era uma amiga, sempre presente para um conselho. Não só pra nós, mas pra todos que estavam ao seu redor. Coragem e fé a resumem. Até ao sair pro hospital, disse ao meu irmão que 'já estava curada, em nome de Jesus' e que mais tarde estaria em casa. Para muita tristeza de toda a família, nunca mais voltou. Mas tenho as melhores lembranças dessa mulher que foi tudo pra mim. As mãos mágicas, não eram só pra costura. Nas horas vagas, era doceira junto comigo... era meus braços e pernas, me ajudando demais! Vai ficar tudo bem, minha guerreira."

Maria nasceu em Brejo da Cruz (PB) e faleceu em Recife (PE), aos 66 anos, vítima do novo coronavírus.

Testemunho enviado pela filha de Maria, Antoniele Carme Fernandes dos Santos. Este tributo foi apurado por Denise Pereira, editado por Denise Pereira, revisado por Lígia Franzin e moderado por Rayane Urani em 22 de outubro de 2020.