1940 - 2020
Não perdia uma festa! Sabia de cor o aniversário de todo mundo e já deixava a roupa especial separada na véspera.
Maria Irinéia era animada. Contava com alegria as histórias de sua vida, mesmo os momentos mais difíceis, inspirando coragem a quem estivesse ouvindo. Foi uma mulher forte e protetora, e criou com orgulho seus dez filhos, 31 netos, 29 bisnetos e mais o trineto, que cresceram todos próximos. O trabalho era grande, mas ela fazia tudo com prazer. Com o marido, tinha uma relação de muita cumplicidade: ela mais brava, ele mais calmo.
Maria tinha ótima memória: fazia contas como ninguém e sabia a data de aniversário de todos da família. E dos vizinhos também. Como boa festeira que era, não perdia nenhuma comemoração. Seu forte era passear. Dizia que “se fosse boa das pernas não pararia em casa”. Priscila, a neta, lembra de como Dona Lia gostava mesmo de festejar: “se a festa fosse às 11h de domingo, ela já estava pensando na roupa às 10h de sábado”. A dificuldade para andar não era obstáculo. Ia da forma que desse. “Colocava todo mundo doido”, mas não deixava de aproveitar.
Gostava muito de relembrar as histórias do passado. A repetição dos casos era motivo de diversão da família toda, que já previa o que Maria ia narrar. Sempre falava sobre o Seu Pantaleão, um senhor de sua época que cuidava de toda a comunidade. E essa história até os netos já conheciam. Quando ela começava, um já olhava para o outro e dizia “ah, lá vem o Pantaleão”. Era sua história clássica.
Dona Lia sabia ser brava falando manso. Com todo amor, dava conselhos preciosos, e deixava o choro sair. “Com a vó ninguém precisava ser forte ou durão. Ela deixava a pessoa ser humana, e sentir dores. A qualquer problema que um familiar tinha, corria para seu colo. Uma música, um sorriso ou um carinho na cabeça era o suficiente para saber que tudo daria certo. Tinha ‘poder’ e sabia disso”, descreve Priscila.
Para a família, como lembra sua neta, ela era “a rainha do mundo, o bem mais precioso, a pessoa mais justa, amiga, carinhosa, sincera e dedicada”. Ensinou quem a cercava a viver em família, a amar e a ser forte. Ainda nas palavras de Priscila, “Dona Lia era sinônimo de luta, riso frouxo, de fé, amor, e esperança. Ela faz falta todos os dias, e sonhar com ela traz paz. Não seria clichê dizer que foi a melhor pessoa que o mundo já teve o prazer de conhecer”.
Maria nasceu em Tijucas (SC) e faleceu em Florianópolis (SC), aos 80 anos, vítima do novo coronavírus.
Tributo escrito a partir de testemunho concedido pela neta de Maria, Priscila Regina da Silva Reis. Este texto foi apurado e escrito por jornalista Gabriela Pacheco Lemos dos Santos, revisado por Fernanda Ravagnani e moderado por Rayane Urani em 30 de junho de 2021.