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Maria Isabel Solano

1964 - 2020

Não descia do salto nem para fazer uma faxina, amava praia e cozinhar.

Belinha foi uma lutadora até o último dia de vida, batalhava com toda vaidade e força que nela existia. Trabalhou como doméstica e copeira, mas não descia do salto para executar esses ofícios. O caminhar com anabelas e tamancos era firme e gracioso. Ninguém nunca a viu de chinelos.

Nem mesmo quando saía às 4 horas da manhã, para limpar 14 salas de uma clínica de estética, deixava de se arrumar.

Também trabalhou na sala VIP de um aeroporto, emprego que a amiga Nívia ajudou Belinha a conseguir. Ela contava que amava esse serviço, assim como trabalhar na casa de Marciléia, a quem sua filha chama de amiga ─ a patroa até buscava Maria Isabel em casa.

Era casada com Edson, um marido que demonstrava ser louco pela esposa. Os frutos desse amor foram os filhos: David (in memoriam), Diana, Fabiana e Ariana.

A cozinha era um dos lugares em que Belinha mais se sentia à vontade. Cozinhava divinamente bem. Sua inesquecível lasanha era o carro-chefe, o prato mais aguardado nos almoços da família aos domingos. O frango assado feito por Maria Isabel era de se comer de joelhos também. A saudade tem esses sabores para os amigos e familiares de Isabel.

Em dezembro e janeiro, a mesa ficava ainda mais farta devido às festas de fim de ano.

Ir ao shopping e à praia estavam entre seus programas preferidos, e sempre se recordava alegremente de quando levava os filhos para ver o mar ou as lojas com a amiga Márcia.

Valorizava bastante sua independência e sempre tentava a sorte na loteria.

Belinha lutava há anos contra um câncer, mas o riso dava um jeito de encontrá-la. Um dia, recebeu a visita da filha Fabiana com a neta Beatriz, a irmã Carmem e mais algumas crianças. Enquanto Bia estava no banho, ocorreu um curto-circuito na caixa de luz; a menina saiu correndo pelada rua afora de tanto medo de morrer queimada. Fabiana foi atrás da filha com a toalha, enquanto avó Maria Isabel e todos que estavam lá, riram muito desse episódio.

Quando o coronavírus chegou, Belinha já estava bastante vulnerável devido ao câncer.

Partiu e deixou muitas saudades. Encontrou o filho mais velho, David (falecido em 2017) na outra dimensão, de onde os dois olham por todos que aqui ficaram.

Maria nasceu em Marília (SP) e faleceu em São Paulo (SP), aos 66 anos, vítima do novo coronavírus.

Tributo escrito a partir de testemunho concedido pelos familiares e amigos de Maria, Daiana, Fabiana, Ariana, Carmem, Neuza, Luciana, Márcia e muitos outros. Este texto foi apurado e escrito por Talita Camargos, revisado por Lígia Franzin e moderado por Rayane Urani em 1 de dezembro de 2020.