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Maria José Lira Guerra

1965 - 2020

As mãos de Maria eram delicadas o suficiente para fazer manicure, e fortes o suficiente para erguer uma casa.

Ninguém ficava triste perto dessa “moça sem juízo”, que aprendeu que a vida é para ser degustada com alegria. Quando sua filha Suenya dizia alguma coisa, como pedir a ela que se cuidasse, Maria ia logo respondendo: “Su, eu não vou me privar de nada, não! Me deixa! Deixa sua mãe ser feliz! Ah, garota! Quem é a mãe aqui?”. Mas Suenya, muitas vezes, sentia que era ela a mãe e Maria, a filha. Por isso, com respeito e sempre na base da brincadeira, respondia: “A mãe aqui sou eu! A senhora não tem juízo!”

Uma mulher de múltiplos talentos, não passava apertado, nem dependia de ninguém. Fazia unhas, arrumava cabelos, cozinhava e, até obras dentro de casa essa guerreira fazia. “Nossa teteia! Nossa coisa fofa! Nossa querida!” – lembra com imenso carinho a filha.

Onde Maria chegava, logo começavam as gargalhadas, o barulho. Era espontânea, seus gestos e palavras eram autênticos. Maria era livre, viveu uma vida de verdade, sem mais ou menos, sem banho-maria. Com ela era tudo muito intenso.

Maria teve três filhos, Suenya, Suerica e Samuel e era capaz de revirar o mundo por cada um deles. Era a alegria e a força da família. Os ensinamentos que deixou são imensuráveis. A filha Suenya revela, com o coração cheio de saudades: “Eu amo tanto a minha mãe, que não há palavras suficientes para expressar esse amor. E posso dizer, sem nenhuma dúvida, que o melhor presente da vida, foi ser sua filha!”

Amava o amor, amava amar, jamais deixou de acreditar na existência do amor. Nem todas as dificuldades da vida – e olha que não foram poucas! -, conseguiram endurecer o coração de Maria. Uma fortaleza recheada de doçura e carinhos sem fim.

A saudade é dolorida, mas as lições que Maria deixou aos filhos são carregadas de fé, de força, de coragem e de alegria. Suenya, Suerica e Samuel vão levar para sempre no peito a imagem dessa mulher, única e necessária. E honrarão a sua memória, lembrando dos momentos felizes, dos risos e da luz radiante de Maria.

Maria nasceu em Carpina (PE) e faleceu em São Paulo (SP), aos 54 anos, vítima do novo coronavírus.

Testemunho enviado pela filha de Maria, Suenya Karla Silva Guerra. Este tributo foi apurado por , editado por Ana Macarini, revisado por Lígia Franzin e moderado por Rayane Urani em 4 de julho de 2020.