1953 - 2020
O coração transplantado bateu forte por 29 anos, cheio de amor e vida. Seu exemplo é esperança para muitos.
Lourdes era a mãe amorosa de cinco filhos: Valeria, Viviane, Vanessa, Joeldi e Edmilson, e avó querida dos netos. Sua dedicação e cuidados com os seus foram muito admirados por todos. Tinha um coração de mãe muito especial, cuja trajetória foi de muito amor e vontade de viver. Um abrigo onde couberam todos e onde a generosidade fez morada e não foi mais embora.
Essa mãe guerreira e especial abrigou no peito por 29 anos o coração de um jovem de 19.
Essa história começa com amor. O amor por gestar um filho foi tamanho que seu jovem coração de 38 anos não suportou. Diante de complicações de saúde que a deixaram em coma por um mês, iniciou-se uma luta pela vida que não se encerraria, porque o amor de uma família em um momento de extrema dor lhe trouxe um novo coração e a possibilidade de continuar viva quando apenas a esperança estava disponível. Com o novo coração e uma rotina que poderia ser insuportável para muitos, pela quantidade enorme de medicamentos (ao todo trinta, necessários diariamente para evitar a rejeição), ela foi exemplo de determinação, coragem e vontade de viver.
Dez anos depois o coração transplantado teve que passar por uma grande prova, a perda de seu marido e grande amor Joedal. Um amor que, mesmo os anos se passando, continuava vivo nos versos de sua canção favorita, “Índia”, que lhe trazia lembranças e emoção todas as vezes que escutava, recordando os momentos em que o marido apaixonado a cantava para ela. O coração cheio de amor encontrou novamente repouso e abrigo quando Lourdes casou-se pela segunda vez.
As viagens com o esposo eram momentos de muita alegria e felicidade para ela, que amava viajar. Seu gosto pelas viagens era tamanho que muitas vezes dirigiu sozinha mais de 500 km de carro para visitar parentes no interior de São Paulo. Um detalhe: gostava demais de dirigir caminhão! Na companhia do marido caminhoneiro chegou a percorrer estradas em São Paulo, Minas Gerais e Mato Grosso, trazendo sempre consigo boas histórias e recordações dos lugares por onde passou.
Lourdes foi uma mulher guerreira, resiliente e destemida, símbolo de luta e esperança para todos no Incor. Não reclamou, não desanimou e muito menos desistiu, sendo exemplo de sucesso e mostrando que a vontade de viver supera qualquer estatística! Quando a maioria dos transplantados necessita de um novo coração em média em cinco anos, e o tempo de vida não supera dez, ela atravessou com entusiasmo e determinação quase três décadas, mostrando ser possível manter-se viva, forte e ativa, enfrentando com amor todos os desafios.
A filha Viviane lembra-se da mãe com muito carinho, boas lembranças e saudade. Elas moravam juntas em um apartamento comprado por ambas e carinhosamente decorado por Viviane do jeitinho que a mãe sempre sonhou. A lembrança da conversa com a mãe quando ela teve o diagnóstico de Covid-19 permanece viva em sua memória e a ausência do convívio diário encontra nas boas lembranças um aconchego.
Nos versos da música favorita da mãe: “Quando for embora para bem distante, e chegar a hora de dizer adeus, fica nos meus braços só mais um instante...”, encontra-se o profundo desejo do abraço que jamais será esquecido.
Maria nasceu em Presidente Wenceslau (SP) e faleceu em São Paulo (SP), aos 67 anos, vítima do novo coronavírus.
Testemunho enviado pela filha de Maria, Viviane de Souza da Silva. Este tributo foi apurado por Malu Marinho, editado por Ana Clara R. Cavalcante, revisado por Paola Mariz e moderado por Rayane Urani em 24 de fevereiro de 2021.