Sobre o Inumeráveis

Maria Lúcia Schneider

1949 - 2021

Com sua risada gostosa e os olhos azuis da cor do mar, era pura doçura.

Maria Lúcia foi uma mãe e avó incansável. Ela e a filha, Paula, eram inseparáveis, melhores companheiras uma da outra. Quando veio o primeiro neto, Pedro, ajudou a criá-lo para que Paula pudesse continuar trabalhando. Depois veio o segundo, Davi, de quem também foi mãe-avó em tempo integral.

De personalidade forte e muito confiante, estava sempre preocupada com o próximo. Tinha um jeito único de não parecer aquilo que não era. O genro Rafael, que esteve presente em seus últimos momentos, diz que "ela partiu mantendo-se a mulher durona que sempre foi".

Doceira de mão-cheia, Maria Lúcia guardava em tudo que era papelzinho as receitas novas que aprendia. Enchia a filha de receitas que ela nunca iria fazer. Hoje, o caderno cheio de segredos culinários é guardado com muita saudade e orgulho. Em sua cozinha tudo tinha que ser perfeito: a melhor torta nas reuniões da família era sempre a dela.

Era também um pouco mãe de todos os sobrinhos: Mauren, Maurício e Juliana. Quando eles saíam com sua filha Paula, Maria Lúcia carregava a voz nos conselhos, sempre preocupada e com um sermão na ponta da língua. E como era braba quando não a deixavam falar!

Sempre foi muito carinhosa e era dona de um enorme coração. Seu jeito de deixar todos felizes era encher a casa e as panelas com suas especialidades da comida alemã: carne de porco na panela de ferro, salada de batata com maionese e massa caseira com “cripia” (restinhos de massa fritos e jogados por cima do macarrão) ─ uma receita de família, de origem germânica.

Além de cozinhar, Maria Lúcia gostava também de saborear a maionese de batata no pão, acompanhada de um belo café, invariavelmente sem açúcar.

Quando ela ainda bebia uma cervejinha, fazia questão que estivesse bem gelada, trincando! Senão dava "dor de cabeça", dizia ela. Por isso, chegava a acrescentar gelo na cerveja e bebia aguada mesmo!

Maria Lúcia era de uma inteligência ímpar, "praticamente uma enciclopédia viva", como lembra sua irmã Carla. Muito perspicaz, afirmava ter 120 de QI, e dizia isso com brio. Também era bastante vaidosa, não saía de casa sem ao menos passar uma maquiagem leve para ressaltar seus lindos olhos azuis, dos quais tinha tanto orgulho.

Amava novelas. Pensa numa pessoa braba! Essa era ela quando alguma coisa a atrapalhava e não conseguia ouvir a fala dos personagens. Também não largava o celular e o notebook, sempre em função dos joguinhos onde, inclusive, administrava uma cidade inteira. Imagine só ela não conseguindo fazer a colheita ou então deixando de completar alguma missão? Não, nem queira imaginar a irritação!

Tanto sonhou em morar na praia que, enfim, realizou o desejo com sua casinha em Tramandaí, no litoral norte gaúcho. Não era muito de entrar no mar, mas gostava do clima praiano e da tranquilidade do seu quintal, ali sempre batia um ventinho fresco e rejuvenescedor.

"É lá que todos nós iremos sempre relembrar seu abraço caloroso, suas delícias culinárias e sua risada gostosa que sacudia o corpo inteiro e nos alegrava a alma. Sentiremos muitas, muitas saudades, Lúcia!", conclui a sobrinha Juliana.

Maria nasceu em Estrela (RS) e faleceu em Porto Alegre (RS), aos 71 anos, vítima do novo coronavírus.

Tributo escrito a partir de testemunho concedido pela sobrinha e pela irmã de Maria, Juliana Jaeger e Carla Schneider. Este texto foi apurado e escrito por Lígia Franzin, revisado por Acácia Montagnolli e moderado por Rayane Urani em 29 de abril de 2021.