1931 - 2020
Nem os médicos escapavam de suas piadas.
Dona Manu tinha a habilidade de transformar qualquer situação, por pior que fosse, em uma comédia a ser compartilhava. Ela sabia que o riso torna a vida mais leve. E não tinha quem escapasse de suas piadas. Poderia até perder amizade, mas não deixava de contar suas anedotas.
É que Dona Manu tinha muitas tiradas que não poderiam deixar de ser ditas. Prova disso foi uma vez em que levou suas duas netas ao consultório médico. A doutora, ao saber que ambas eram criadas por ela, questionou porque uma havia crescido e a outra não. Ela não hesitou em responder “dei mais fermento para uma do que para a outra”.
Ou quando dizia que aprendeu a costurar para deixar toda família alinhada para a missa.
Festa também era com ela. Adorava quando a casa estava cheia de gente. Nas datas comemorativas era mesa farta, risadas e todos falando muito alto.
Gostava que os netos fizessem apresentações de danças e peças de teatro nos natais. A regra é que tinha que ter comédia. A Praça é Nossa, programa de televisão humorístico popular na década de 1980 e 90, era sempre reproduzido para divertir a matriarca.
Se levava a vida com tanta alegria, era antídoto contra as durezas que sempre enfrentou com a cabeça erguida. Durante os tempos de poucos recursos financeiros, se virava em muitas frentes. Era costureira, dona de casa, professora, cozinheira, mãe...
Também sempre dava um jeito para agradar todos, sem, é claro, perder a graça. Seu marido, só comia margarina da marca Doriana. Quando acabava, dona Manu colocava a margarina de outra marca no pote de Doriana. Rosário comia e nem percebia a diferença no sabor.
A matriarca dizia que seu sonho era ver um filho na televisão. Certa vez, a neta Lia, que foi criada por dona Manu, apareceu em um programa da Band. Não foi exatamente do jeito que a avó havia imaginado, mas ficou muito feliz da mesma forma. Quando Lia começou a fazer teatro, a avó lhe disse que a neta havia realizado seu sonho.
Pessoa que motivava todos ao seu redor, dona Manu também tinha “mão boa” na cozinha. Os bolos e pães eram unanimidades. Também havia o arroz-doce, que ninguém conseguia fazer igual.
Casou-se aos 16 anos com Rosário dos Santos e com ele teve 18 filhos. Destes, oito não passaram dos 3 anos de vida, em média. Os demais cresceram e formaram uma grande família, da qual Maria Manoelina muito se orgulhava e sempre fazia questão de lembrar.
Maria nasceu em Conceição do Rio Verde (MG) e faleceu em Mogi das Cruzes (SP), aos 89 anos, vítima do novo coronavírus.
Tributo escrito a partir de testemunho concedido pela neta de Maria, Maria Antônia de Oliveira Neres. Este texto foi apurado e escrito por jornalista Larissa Paludo, revisado por Lígia Franzin e moderado por Rayane Urani em 5 de agosto de 2020.