1929 - 2020
Mulher admirável, de fé inabalável e extremamente caridosa, era dona de um sorriso que abraçava.
“Quando dona Regina estava entre nós, era como um anjo que semeava amor e nos conduzia a Jesus e a Nossa Senhora de Nazaré”, conta o primogênito, Alberto José Silva Tobias, que reuniu relatos de familiares e amigos para homenagear e resgatar boas recordações de sua querida mãe.
Ainda jovem, Maria Regina ficou viúva e passou a se dedicar à missão religiosa e à família ─ que agora contava também com sua mãe, dona Edelvira, e suas três irmãs ─, as quais foram viver com ela e os seis filhos num apartamento de 70 m², onde podia até faltar espaço, mas sobrava alegria.
Os filhos de dona Regina foram acostumados desde sempre a chamar os amigos e amigas da mãe de "tio ou tia", assim, eles têm as tias Angela, Zezé, Regina, Teresa, o tio Ubiratan entre tantos outros.
Uma dessas tias, a Angela, conta: “Em 2010, nós duas resolvemos transformar a garagem da minha casa num ambiente de oração. Com o passar dos anos, o “Cantinho da Misericórdia” transformou-se numa igreja com capacidade para mais de 100 fiéis e com missas todos os domingos”. Esse era um dos lugares preferidos dela.
"Quando íamos aos hospitais, ela queria que todas as crianças ficassem curadas logo, era carinhosa e procurava transmitir alegria aos pequenos e aos seus pais: ela aliviava a tensão!", conta Angela que, junto à amiga, praticava as obras de misericórdia.
Para a amiga, o sonho de Regina era que o mundo fosse melhor e que todas as pessoas pudessem viver com dignidade e em paz". Regina emanava a mais pura gratidão a Deus por todas as coisas, e uma luz muito forte que contagiava todos. Sua fé era o que a movia e sustentava.
Dona Regina ainda frequentava diariamente as missas do Colégio Dom Bosco e era a responsável pela peregrinação diária da Mãe Rainha. Era ela quem coordenava as visitas da santa aos lares de tantas famílias que davam o seu “sim” para receber a imagem daquela que zela pelos seus lares, abençoando e transformando suas vidas.
O amigo Ubiratan pondera que o mais correto seria tratá-la respeitosamente por "tia Regina", afinal teve sua vida marcada pela presença da mulher que valorizava de um modo admirável as amizades e orações pela família e amigos. "Dentro de minha sensibilidade, destaco sua vida de oração, sua frequência às missas e eventos religiosos, superando fatores limitantes de natureza física e saúde para estar sempre presente e nos enriquecer com lindas palavras e gestos."
Ubiratan diz ainda que foram muitos os momentos de aprendizado de vida ao lado de tia Regina, "Lembro-me dos cafés da manhã com amigos que frequentavam as missas, de seu sorriso todo especial demonstrando sempre alegria. A saudade é enorme, essa senhora marcou não apenas minha vida, mas também a de todos que tiveram a felicidade de conviver com ela."
Amadurecimento espiritual, felicidade e sucesso familiar são considerados pelo amigo Ubiratan como os maiores sonhos de dona Regina. Ele conclui sua homenagem com agradecimentos a Deus e sucessivos elogios aos membros da família Silva Tobias por ter tido a honra de partilhar momentos inesquecíveis com eles.
Para a filha Iná Lúcia, a mãe era uma guerreira cristã que amava viver e cujo hábito era sua dedicação a Deus e à família. Ela relembra os momentos de alegria quando, nos eventos familiares, dançavam juntas festejando a vida, e conta: “O trabalho para mamãe era sua saúde mental e física, sua família sagrada. Como era uma exímia educadora, durante nossas reuniões, nos orientava com muito amor e fidelidade a Deus. Suas maiores virtudes eram a obediência e a disciplina. Sendo caridosa e amável com o próximo, concretizou seu maior sonho: imitar Nosso Senhor Jesus Cristo. Mamãe deixou uma herança valiosa para nós, os filhos, e para todos que a conheceram, ela era admirável.”
Sandra, outra das amadas filhas de dona Regina, relembra que a mãe gostava de dançar, cantar, ouvir boas músicas e de ajudar o próximo ─ principalmente os que estavam doentes. “Ela também gostava muito de rezar, era muito católica e fazia parte de um grupo de orações, por meio do qual muitas graças abençoadas por Deus foram alcançadas.
Todas as segundas-feiras ela se juntava ao grupo que ia ao Instituto Ophir Loyola para doar um belo café da manhã aos pacientes que vinham do interior com o objetivo de passar em consulta médica. Era muito dedicada à família, gostava de plantas, tinha um jardim ao qual dedicou boa parte de sua vida, molhava as plantas rezando, pedindo por seus familiares próximos, depois aos distantes e, finalmente, por todos os habitantes do mundo ─ encarnados e desencarnados.
As reuniões em casa, os aniversários, as datas comemorativas como Páscoa, Dia das Mães, Círio e Natal eram sempre regadas a muita alegria. Com sua partida, resta-nos apenas absorver tudo de maravilhoso que ela nos deixou, como os ensinamentos para bem viver com as pessoas e com Deus acima de tudo. As saudades serão eternas. Mãe querida, te amo muito. Fique na paz de Cristo. Amém.”
A filha caçula, Silvia Regina, resume a mãe em apenas uma palavra: Caridade. Ela também conta que a mãe era dizimista de paróquias, igrejas e emissoras de TV e que, mesmo com a visão muito debilitada, confeccionava terços (pelo tato) e os distribuía, inclusive aos moradores de rua que, delicadamente chamavam-na de vó. Quando isso acontecia, ela enriquecia seu coração e alargava um sorriso nos lábios. Era sempre acompanhada de um ministro religioso e grande amigo-irmão em Jesus Cristo, como carinhosamente chamava o Sr. Ubiratan.
“Após a missa, ela promovia uma sessão de ginástica para idosos, que meu irmão mais velho colocava numa plataforma de compartilhamento de vídeos na internet”, conta Silvia que ainda lembra que a mãe “adorava imitar grandes atrizes do passado e ficava desfilando com chapéus, saltos altíssimos, piteiras, óculos e livros na cabeça, para aprender a andar corretamente.”
Maria Regina era muito dedicada, disciplinada. “Conosco era uma mãe-pai carinhosa e enérgica quando necessário, mas sempre um porto seguro”, relata Silvia.
O segundo filho de dona Regina, Paulo Gilberto, carrega desde pequeno os sábios ensinamentos da mãe que, segundo ele, "tinha uma obstinação por seus filhos e criou em mim, o hábito de saber lidar com o medo. Ela dizia que o medo estava no futuro, que no presente não existe medo. O que existe é a força de Deus!" Por isso, o filho sempre soube, desde a mais tenra idade, que devemos ter Deus no controle de nossas Vidas. "Mãe Regina era uma prova de fé em Deus", conclui o filho.
Ao todo, dona Regina teve 17 netos e quatro bisnetos, representados aqui pelas netas Mariza, Camila e Isabella:
“Vovó Regina gostava demais do mar, gostava de cuidar de seu jardim, gostava muito de ficar com as amigas! Tinha a mania de acordar bem cedo para apreciar o nascer do sol e regar suas plantinhas. Era muito amor pelas plantinhas! Vovó era muito família, lembro-me bastante das reuniões quando éramos crianças, vovó fazia um bolinho com suco e batizava as nossas bonecas. Saudade dos momentos felizes ao lado da minha vozinha!”, assim Mariza retrata lindamente suas recordações.
Bastante emocionada, a neta Camila conta: “As coisas que a vovó mais gostava, na verdade, era de ver a família muito unida e de relembrar a época em que os filhos eram adolescentes e iam à discoteca. O sonho dela era poder revisitar aquele período, fazer uma festa na Tiradentes e reviver todos aqueles momentos.”
Vó Regina detestava quando Camila fazia vídeos dela malhando, mas era engraçado ver suas reações. Para a neta, que via a avó como uma pessoa que dedicava sua vida a Deus e que fazia muitas tarefas em prol da vida cristã, o mais marcante na avó era o fato dela ser muito apegada e de querer ter sempre a família por perto e, sobretudo, que estivessem com Deus, seguindo o mesmo caminho dela, para que assim conseguissem alcançar o relacionamento com o Divino, assim como ela conseguiu.
Ela queria a salvação de todos. “Tinha lá seus defeitos, o orgulho era um deles, mas possuía muito mais perfeições, com certeza. Fazia questão de ter um relacionamento mais próximo e mais intenso com aqueles que ela percebia que precisavam mais de sua presença”, relata Camila.
Essa relação impecável com a família, descrita por Camila, reflete os sonhos de vida e de eternidade da avó. Dona Regina sempre tentou ─ em vida ─, que todos os filhos, netos e bisnetos tivessem com Deus o mesmo relacionamento que ela conseguiu alcançar. Agora, ela certamente está lá em cima, mas seus sonhos não acabaram, pois o que almejou foi um plano para a eternidade: ela sempre quis e sempre irá querer todos unidos pela fé.
Isabella, a neta mais bem-humorada, diz: “Falar da minha avó é falar de fé, de amor, de carinho, de família... Ela foi uma grande mulher! Sua maior característica era a caridade. A minha avó pensava e acreditava (e é o certo!) que a gente precisa ajudar todas as pessoas. Sempre foi uma pessoa maravilhosa, morei com ela durante o tempo em que estava estudando para o vestibular e, muitas vezes, durante a madrugada, lá estava ela no quarto, orando. Eu dizia pra ela: ‘Meniiinaaa do céu, deixa Jesus em paz. Quando tu chegar no Céu, a primeira coisa que Ele vai fazer é puxar tua orelha! Tu não deixa Jesus em paz, mulher?!’ Ela era muito família e o que mais prezava era que todos estivessem unidos.”
Para Isabella, as comemorações e as encenações que faziam a cada Natal, durante toda a sua infância, foram marcantes e para sempre ficarão na memória. Ela conta: “Não podia faltar ninguém! A gente fazia a celebração do nascimento de Jesus com uma peça, e eu era sempre convocada a representar José. Eu dizia: ‘vó, por favor, eu não quero ser o José. Deixa eu ser outra coisa’ e ela respondia: ‘Não, minha filha, o seu papel é o de José’. As encenações eram feitas com tios, primos, irmãos, primos de segundo, terceiro e de quarto grau, até... todos estavam lá, era maravilhoso! O que posso dizer dela é que foi vitoriosa, uma grande mulher e seu legado é Deus.”
O filho Alberto José, que herdou o nome do falecido pai, conta que a mãe dizia que “quando se comunga, ao receber a hóstia consagrada, salvamos mil almas”. Além de suas visitas aos enfermos levando a Palavra, suas missas e comunhões diárias, dona Regina, onde quer que estivesse, sempre rezava a oração do Papa Francisco, a das Cinco Chagas de Jesus e reunia todos que estivessem próximos a ela antes de dormir.
“Mamãe era uma pessoa extremamente alegre e brincava com tudo. No seu último aniversário, de 90 anos, ‘dançou a valsa’ ao som de um carimbó do Pará. Sim, a dança com filhos, sobrinhos e netos foi ao som de “No Meio do Pitiú”, um momento engraçado, memorável e de enorme alegria para toda a família.
Dona Regina fez muitas obras em nome de Deus, ajudava as pessoas porque ela era pura caridade e fé em Deus. Seu maior sonho era voltar a ter os filhos embaixo de suas asas. “Se pudesse, colocava todos num único prédio administrado por ela”, afirma Alberto José.
“Ela foi um exemplo de amor, de carinho, de caridade e de fé ─ fé era o que ela tinha de sobra! Deus queria que ela estivesse ao lado d'Ele pra poder fazer todos felizes lá em cima”, finaliza a neta Isabella.
Assim como a Mãe Peregrina, a presença de dona Regina era abençoada. Hoje ela é um anjo no Céu, junto do Pai e de Nossa Senhora de Nazaré, intercedendo por todos.
Maria nasceu em Belém (PA) e faleceu em Belém (PA), aos 90 anos, vítima do novo coronavírus.
Tributo escrito a partir de testemunho concedido pelos familiares e amigos de Maria, Alberto José, Iná Lúcia, Silvia Regina, Sandra, Paulo Gilberto, Mariza, Camila, Isabella, Angela e Ubiratan. Este texto foi apurado e escrito por Lígia Franzin, revisado por Ana Macarini e moderado por Rayane Urani em 3 de fevereiro de 2021.