Maria Valentina da Silva

1952 - 2020

Não existia outro nome que ela pudesse ter: Valentina, um ser valente que acolheu e cuidou.

Sua forma de existir no mundo envolveu aquilo que de mais essencial pode haver no ser humano: o cuidado.

Maria Valentina criou sozinha as duas filhas desde cedo. “Meu pai saiu de casa quando éramos pequenas e ela foi um exemplo de mãe, de força e luta”, conta a filha Flavia Regina.

Quando alguém precisava de um lar, ela acolhia. Segundo Flavia, “teve época que em minha casa moravam umas quatro pessoas diferentes, porque ela queria ajudar de alguma forma e uma delas era dar abrigo”.

E esse cuidado como modo de ser essencial de Maria Valentina incluía nossos outros irmãos da natureza: os animais. Ela os amava e também os acolhia. “Não existe memória da minha vida sem animais de estimação. Minha avó dizia que desde pequena minha mãe gostava dos animais e pegava aqueles que estavam soltos na rua dizendo que era dela”, lembra a filha.

Decidiu não se casar novamente em nome do cuidado. “Ela tinha medo de colocar alguém dentro de casa que pudesse fazer algum mal para mim e para minha irmã”, relata Flavia. Seu amor pelas filhas era tão grande que “renunciou a uma nova vida amorosa”, ela complementa.

Esse cuidado da mãe talvez tenha inspirado a filha na escolha da profissão. Flavia Regina é enfermeira e Maria Valentina transbordava de orgulho com isso. “Ela tinha tanto orgulho de mim, da minha profissão, ela falava feliz para todo mundo.”

Herdeira do cuidado de Maria Valentina, Flavia lamenta não ter conseguido proteger e salvar a mãe. “Parte do meu coração morreu com ela”, afirma.

Mas o amor de Flávia e da irmã por essa mãe “solo”, “guerreira” e “iluminada” permanece em forma de gratidão e cuidado que se reproduz e se alimenta.