1956 - 2020
Mulher de riso largo e solidariedade ainda maior, tirava da própria boca para doar a quem precisasse.
Ela era a dona Mariela para todos e "Meu Tesourinho" para Luciana, a única filha. Porém, essa senhora também foi preciosa para a comunidade em que vivia. Ajudava todo mundo e, às vezes, "tirava da própria boca" para não deixar faltar para o outro.
Muito dela ainda está aqui, pois nessas doações, um pouco de Mariela ficava com quem recebia o fruto de sua bondade.
A mãe foi mesmo um tesouro na vida de Luciana. Todos os dias, ela ligava para perguntar se a filha tinha almoçado. Era daquelas mães amorosas. Uma de suas atividades preferidas era caminhar no Parque das Águas, em Cuiabá, com a Lu. Passear no shopping e comer sushi também deixavam Mariela animada e feliz.
Um dos sonhos, que realizou em vida, também tinha a filha como protagonista: Ela ficou radiante ao ver a filha casar e, mais ainda, em conduzi-la até o altar. A alegria nesse dia foi ainda maior com a presença de sua irmã Aparecida, as irmãs não se encontravam havia um ano. Mariela sonhava com o dia em que ela e a irmã tão querida e amada morariam juntas.
O comércio que manteve em seus últimos dois anos de vida também mostrava o quanto dona Mariela era valiosa para a filha. Chamava-se Brechó da Lu, em homenagem à Luciana. Para a sorte delas, moravam próximas, a uma quadra de distância.
Seu outro grande amor foi o pai de Luciana, o ex-marido. A separação não pôs fim ao que ela sentia por ele. No hospital, em seus derradeiros dias, foi uma mentira do bem que deu forças para que ela se alimentasse. A filha disse que o pai havia ligado querendo saber notícias e que prometendo fazer uma visita. "Falei que ela precisava se fortalecer para recebê-lo. Como iria receber visita estando tão fraca? Só assim ela comeu", relembra.
Os dois conversavam de vez em quando, tinham uma relação amigável, mas nunca retomaram o relacionamento. Para ocupar a mente, depois do divórcio, ela voltou a estudar. Desistiu quando caiu do ônibus e ficou com medo da pequena viagem que precisava fazer até a escola.
Era uma serva de Deus, evangélica, orava e louvava muito ao Senhor. Adorava usar as redes sociais, amava ser fotografada. Um sorriso espontâneo sempre estampava suas poses.
Quando a mãe partiu, Luciana quis evitar que outras famílias passassem pela mesma dor e enviou um vídeo para uma emissora de TV contando que ela e mãe se cuidavam, mas mesmo assim o vírus chegou até Mariela.
Neste tributo, ela reforça o alerta e, mais ainda, o amor que continua a nutrir pelo seu Tesourinho: "Te amo pra sempre, mãe", declara.
Mariela nasceu em Iporá (GO) e faleceu em Cuiabá (MT), aos 64 anos, vítima do novo coronavírus.
Tributo escrito a partir de testemunho concedido pela filha de Mariela, Luciana Campos. Este texto foi apurado e escrito por Talita Camargos, revisado por Lígia Franzin e moderado por Rayane Urani em 11 de fevereiro de 2021.