1960 - 2021
Gostava de ir para o sítio para sentir a paz que o cheiro do mato lhe trazia e para comer o feijão de fava, típico da sua terra.
Mário viveu a vida como um herói cuja saga começou muito cedo, com a perda de seu pai, quando ele tinha apenas quatro anos de idade e, como consequência, sua mãe precisou ficar internada por meses. Assim, os filhos se viram temporariamente sem pai e sem mãe, passando por necessidades até que algumas pessoas os pegaram para criar.
Mário, depois de longo tempo em situação de penúria, trabalhando a troco de comida para si e para os irmãos, resolveu mudar-se para São Paulo. Uma vez na metrópole, a vida inicialmente não foi um mar de rosas. Lá, morou de favor na casa de uma senhora onde o único lugar que ele tinha para dormir era um sofá velho na área de serviço.
Mesmo com todas as adversidades, conseguiu vencer. Quando conseguiu um bom emprego e passou a viver melhor, deixou de morar de favor e começou a mandar dinheiro para ajudar a mãe e os irmãos. Nessa altura, com grande saudade da terra natal, ele largou tudo e voltou ao Rio Grande do Norte.
Chegou carregando o sonho de ser policial, fez o concurso e serviu durante trinta e três anos, chegando a ser subtenente, sempre com muito orgulho e honrando sua corporação. Superou dificuldades, foi esfaqueado, baleado, viu amigos morrerem defendendo a farda que tanto amavam mas, em contrapartida, também salvou muitas vidas. Sua atuação profissional foi tão marcante que, após sua partida, foi homenageado pelo trabalho que desempenhou.
Depois da corporação, sua grande paixão foi a família. Se tornou um excelente esposo, pai e avô e, sempre que tinha oportunidade, falava o quanto amava sua esposa, seus dois filhos, sua nora e sua neta, com quem adorava brincar de casinha, de esconde-esconde, de encher a piscina de plástico só para atender seu pedido e ficar todo orgulhoso olhando ela brincar.
Além da relação de cumplicidade que conseguiu desenvolver com a família, seu maior talento era ser pai e ensinar aos filhos o caminho do bem.
É bem verdade que tinha mania de ser muito teimoso, mas sempre cedia aos desejos dos familiares. Para ele, a felicidade era todos estarem com saúde. Fazia de tudo para manter a família unida, melhor ainda se fosse no sítio da sua sogra, lugar que tanto amava.
Depois que se aposentou da Polícia Milita e descobriu o WhatsApp, o que ele mais fazia nas horas vagas era ficar deitado na rede, falando com os amigos de farda. Aos finais de tarde, fazia sua caminhada com seu fiel companheiro, o cachorro DP.
Mário possuía ainda um outro grande prazer: ajudar as pessoas. Durante toda sua vida, estendeu a mão a todas as pessoas que lhe pediram ajuda. Com seu bondoso coração, tirava do bolso para ajudar e, se questionado sobre sua atitude, respondia: “Eu já passei fome na vida, eu já sofri muito, eu sei o quanto é ruim você querer comer e não poder, por isso que eu ajudo as pessoas.”
Com essa vida carregada de emoções, ele dizia para a esposa, em suas últimas conversas, que tinha vontade de escrever um livro sobre sua história. Dentre seus muitos planos, acalentava também o de ver a filha mais nova formada, os filhos vivendo bem e sempre dizendo que sofreu muito para vencer na vida e que ele se daria por satisfeito se filhos pudessem ter tudo que ele não teve.
Mário foi um pai herói digno de ser lembrado para sempre.
Mario nasceu em São Pedro (RN) e faleceu em Natal (RN), aos 61 anos, vítima do novo coronavírus.
Testemunho enviado pela filha de Mario, Maria Marlaine Adelino Fonseca da Rocha. Este tributo foi apurado por Larissa Reis, editado por Vera Dias, revisado por Lícia Zanol e moderado por Rayane Urani em 24 de junho de 2021.