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Mary Alencastro de Moura

1934 - 2020

Os doces de leite e compotas, que fazia com tanto amor, eram tão doces como essa avó.

Este é um tributo escrito por Fernanda para sua avó, Mary:

Minha avó foi a única filha mulher do total de 9 filhos. E isso a marcou muito... porque dizia que desde cedo trabalhou muito. Nasceu em sítio e sempre fez trabalho pesado, ela nasceu e passou a infância em Mimoso, terra de Marechal Rondon. Mas foi registrada em Barão de Melgaço.

Por ser a única mulher, quase não saia, pois principalmente a mãe não deixava. Mas o irmão mais velho intervia muito por ela, ele faleceu no dia 16 de novembro de 2020.

Gostava muito de política e tinha vontade de estudar. Mas os pais entendiam que não era necessário, mesmo assim foi alfabetizada e gostava de ler romances espíritas.

Logo se casou com meu avô e tiveram seis filhos, todos vivos.

Meu avô faleceu em 2015 e desde essa data ela chorava muito, dizia que era o amor da sua vida e tinha vontade de reencontra-lo. Um amor que não acaba mais. Se apegou em uma gata, que chamou de Lilika, dizia que por meio dela, ele estaria perto. Chegou a fazer o aniversário de um ano da gata.

Gostava de viajar e fez algumas viagens em família, conhecendo o Nordeste, mais precisamente Porto de Galinhas, pela qual se apaixonou.

Ela teve dez netos e dois bisnetos. Mas o maior contato foi comigo, duas irmãs, uma prima e a minha sobrinha.

Minha avó ajudou a nos criar, quando minha mãe ficava sem empregada, não pensava duas vezes em fechar o sítio pra ficar conosco, pois minha mãe sempre trabalhou fora.

Ela e minha mãe eram muito apegadas, viviam muito tempo juntas. Quando minha mãe chegava do serviço, minha avó vinha atrás e já dizia: "Vera Marina, aconteceu..." e contava tudo que tinha acontecido na casa. Minha mãe tem um amor infinito pela minha avó.

Tem cinco genros/nora. Mas existia uma ligação bem forte com meu pai, dizia que era como filho dela e fazia seus gostos com comida.

Minha avó era muito humilde, de um coração imenso, do qual despendia muito amor por todos. A sua simplicidade era marcante, a distinguia de muitos, mas, não a deixava perder o bom gosto e apreciação pelas belezas da vida.

Quando descobriu o poder da palavra, acabava por falar tudo que tinha vontade, doesse a qualquer um.

Era um coração gigante pela família....

Adorava fazer doces de compota e de leite que no final brigávamos para raspar o tacho.

Adorava peixe, comia quase todos os dias. Gostava também de ir à peixaria.

Passamos muito tempo ouvindo suas histórias, muitas vezes, repetidas, mas não podíamos perder a paciência, pois ela teve paciência enorme conosco.

Cantarolava o dia todo, fazendo crochê. Quando o médico dizia que o crochê causava dor, ela dizia que queriam invalidá-la.

E fez até o final.

Seus doces e seus crochês eram marca principal dela.

Uma avó que largava tudo e todos pelos netos.

Viveu pela família.

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As linhas abaixo foram escritas por Laura Cristina para sua mãe, Mary:

Suas marcas principais são: fé, coragem, perseverança, tinha uma esperança incalculável, acreditando que tudo iria dar certo.

A sua humildade e simplicidade foram marcantes em sua trajetória terrestre, cultivava uma amorosidade incalculável por todos, inclusive pelos animais, sua amada Lilika.

Possuía muitos dons, como excelência em culinária, comidas e doces regionais. Contava muitos casos vivenciados em sua vida, dotada de muitas experiências ricas de aprendizado. E, mãos cheias em crochê, principalmente, tapetes, caminho de mesa e guardanapos, onde guardamos muitos de seus modelos.

Não desanimava diante dos desafios.

Sua marca também foi superação.

A caridade era seu lema.

Apreciava viajar, curtir a família.

Ela se foi repentinamente, como uma gaivota que alça o voo da liberdade, para atingir outro mundo, deixando-nos cheios de saudades, mas guardando imensas recordações que ecoaram e permaneceram em nossos corações por toda eternidade.

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A relação de Luiz Fernando do Carmo Santos com a sogra era uma ligação “muito forte. Pareciam mãe e filho. Três meses antes de partir, ele pediu se poderia ser enterrado no túmulo dela, se algo acontecesse”, conta Fernanda, filha de Luiz Fernando e neta de Mary.

Para conhecer a história de Luiz Fernando do Carmo Santos, acesse aqui no Memorial Inumeráveis.

Mary nasceu em Barão de Melgaço (MT) e faleceu em Cuiabá (MT), aos 86 anos, vítima do novo coronavírus.

Tributo escrito a partir de testemunho concedido pela neta e pela filha de Mary, Fernanda Maria de Moura Santos e Laura Cristina. Este texto foi apurado e escrito por jornalista Mateus Teixeira, revisado por Gabriela Carneiro e moderado por Rayane Urani em 3 de dezembro de 2020.