Maurício dos Santos

1962 - 2020

Nas festas em família, quando não estava dançando, estava jogando sinuca.

Desde que nasceu, Maurício morou numa mesma casa, na rua Maria de Fátima, em São Bernardo do Campo. Ali existe uma bela praça que compôs o cenário de uma história de vida ímpar. Pois exatamente do outro lado morava Cleide, amiga de infância, que um dia atravessaria a praça como esposa, para morar junto dele por quase trinta anos e a quem ele carinhosamente apelidou de Mocinha.

Quando pequenos, brincavam entre as crianças da vizinhança. Conforme foram crescendo, a amizade continuou até que na juventude se fez a paixão. Começaram a namorar no dia da inauguração de uma danceteria do bairro, chamada New Age. Namoraram por seis anos, ficaram noivos e se casaram em 1991, ele com 29 anos e ela com 25. Tiveram dois filhos desejados e amados, Murilo e Gustavo.

Durante todo esse tempo, a praça foi lugar de encontro, de passagem, de segredos, testemunhando a vida deles. Quando ainda eram solteiros, Maurício passava animado entre os gramados e canteiros para chamar sua amada na casa em frente e saírem abraçados para a jornada do dia: ele como funcionário do banco Itaú e ela como auxiliar administrativa na construtora ART.

Ainda era bancário quando se casaram. Ele trabalhava no setor de compensação do Banco e levava para casa o pão que sobrava do serão noturno para dividir com quem precisava. Era um homem de coração bondoso ao extremo, queria ajudar todo mundo; generosidade era sua marca registrada.

Filho amoroso, pedia a bênção diariamente para dona Anna Ignacia, sua mãe, enquanto ela viveu. E assim legou o exemplo a seus filhos que continuam fazendo o mesmo com Cleide, pois aprenderam que bênção de mãe é tesouro.

Amava Murilo e Gustavo incondicionalmente. Brincalhão, gostava festas. Entre as tantas alegres memórias familiares estão os momentos em que levava a turma para passear no seu Corsa preto. Gostava de tomar uma cerveja gelada e ver a mesa farta — fartura era pra ele uma prioridade. Tudo o que fazia visava o bem-estar da família. A sobrinha Laís afirma que ele era “o melhor tio que alguém poderia ter, muito amado”.

Após deixar o Banco, entrou para a Guarda Civil Municipal, onde permaneceu por vinte anos. Trabalhava com prazer e nem se importava se era ou não feriado. Muito querido pelos colegas, recebeu uma homenagem de honra ao mérito pelo excelente serviço prestado ao efetuar, com sua equipe, a prisão de um criminoso que estava aterrorizando a vida dos moradores ao redor do Paço Municipal de sua cidade.

Tinha carinho especial pelas viagens a Ubarana, cidade do interior de São Paulo, onde ficava hospedado na casa dos parentes de Cleide e aproveitava para praticar seu esporte favorito: a pesca. Sonhava em comprar uma chácara por lá.

Depois que os filhos cresceram, Maurício e Cleide começaram a viajar com frequência para o Nordeste e em 2018 realizaram o sonho de fazer um cruzeiro marítimo, cruzando os mares da costa brasileira de Santos até Salvador, na Bahia. Foi uma segunda lua de mel. Lá compartilharam outro sonho, o de envelhecer juntos, inspirados por alguns casais mais idosos que também estavam a bordo.

Ele tinha também um desejo que espalhava aos quatro ventos: ganhar na Mega-Sena para poder ajudar muita gente e doar para alguns dos familiares uma casa própria.

Entre sonhos realizados e outros que escaparam no tempo, Cleide fala do marido com o coração em paz, apesar da dor: “Ele só me alegrou durante todo o tempo em que fomos casados. Ele sempre foi um príncipe na minha vida. Eu fico muito agradecida a Deus porque ele estava em paz. Era um homem de caráter e cumpriu tudo o que tinha a fazer com maestria”.