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Mezita de Jesus da Silva

1951 - 2020

Apesar das dificuldades, fazia questão de nunca reclamar. Dizia que era abençoada demais para não ser grata.

O nome de Mezita, de origem mexicana, combinava com sua compleição física: uma mulher pequena, esforçada, que foi trabalhadora rural e doméstica.

Era apaixonada pela família. A mãe, o esposo, as filhas, os netos e bisnetos foram os amores de sua vida. Teve seis filhas e caprichosa nomeou todas com a inicial "E": Edileuza, Eliene, Elesiene, Edineide, Elisangela e Eliane. O marido, Valmir, ficou inconsolável após sua partida.

Suas atividades começavam todos os dias às 3h. Acordava antes do amanhecer para orar pela família, para depois fazer as tarefas da casa, ir à igreja e cuidar de sua gatinha. Diariamente servia o café da tarde para os amigos e vizinhos. Tinha o costume de tirar um bom cochilo depois do almoço.

Com uma personalidade excepcional, muitas vezes privilegiou a alimentação das filhas e netos em prejuízo da sua. Ensinou às meninas e a netos e bisnetos que tudo se conquista com o trabalho. A neta Ingridy conta que se lembra de muita pobreza quando era criança, mas com os esforços da avó, que fazia aquilo parecer tão leve, ela e os primos sentiam que tinham tudo.

Dona Mezita sempre quis estudar, mas não pôde, seja por conta do trabalho na roça ou por priorizar a criação e o cuidado das filhas. Segundo a neta Ingridy, ela chegou a frequentar algumas aulas, para pelo menos aprender a escrever o nome, mas chegando lá a professora só queria ensinar soletração. Acabou desistindo de ir para a escola, porque ficava muito cansada depois de trabalhar na roça. Da experiência veio o sonho de que as filhas e os netos estudassem.

"Foi minha avó quem me criou desde os meus 3 anos e eu sempre soube que ela quis estudar, mas não conseguiu. Quando eu tinha 11 anos ela comprou um livro bem caro, parcelado, de um vendedor ambulante que falou que com aquele livro eu entraria na faculdade. E estou prestes a concluir a faculdade, serei a primeira de minha família. Guardo esse livro com todo o meu amor. Sempre que eu ligava, ela perguntava do livro e se estava dando pra estudar com ele, e eu, claro, respondia que sim", relembra Ingridy.

Mezita sempre ajudava as pessoas. Tinha o hábito de ir à prefeitura pedir enxovais para as grávidas carentes e fazia doações. "Uma vez, quando criança, peguei algumas roupas dela e doei para a igreja", conta Ingridy, seguindo desde cedo o exemplo da avó.

Temente a Deus, tinha uma fé inabalável. Evangélica e muito devota, ia para a igreja, orava por todos, e vivia cantando louvores evangélicos no quintal.

Mezita nasceu em Itagi (BA) e faleceu em Ipiaú (BA), aos 69 anos, vítima do novo coronavírus.

Testemunho enviado pela neta de Mezita, Ingridy Wellen Batista Louzado. Este tributo foi apurado por Andressa Vieira, editado por Ana Helena Alves Franco, revisado por Fernanda Ravagnani e moderado por Rayane Urani em 15 de agosto de 2021.