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Minoru Inoue

1949 - 2021

Ele viu vários ciclos de cerejeiras em flor e, ainda que breves as floradas, mais duradouro era seu amor.

Ele amava sua família e por ela atravessaria o mundo, se preciso fosse. E assim o fez: foi ao Japão várias vezes, para que a esposa e as filhas tivessem uma vida melhor. "Assim era o meu pai", conta a filha, Simone.

Seu Minoru era técnico em contabilidade e passou a maior parte da vida trabalhando em fábricas, no Japão; antes disso, trabalhou por muitos anos em uma empresa de produtos químicos em São Paulo e, por fim, antes de se aposentar, foi fiscal de loja em um supermercado. A maioria das pessoas o chamava de Senhor Mario, mas, para a esposa e as filhas ele era o Véio.

O Véio não era pessoa de demostrar afeto com palavras, e sim através de gestos e ações: fazia tudo pelas pessoas e nunca dizia não. Compartilhava com a esposa os cuidados diários com as filhas e as atividades domésticas; tinha até uma camiseta que costumava usar durante a lida do lar, que, de tão velha e gasta, parecia ter saído de uma cena de guerra; o Véio era pau pra toda obra, só não gostava de cozinhar, mas... ninguém é perfeito!

Amava frutas e as consumia diariamente; gostava tanto, que costumava manter uma bacia cheia delas à disposição; assim como as verduras, que nunca podiam faltar no seu cardápio. Para manter sua saúde “de ferro”, fazia visitas frequentes ao mercado, a fim de aproveitar as promoções; essa rotina era levada tão a sério que ele ficou triste, dias antes de ser internado, por não poder sair de casa para as compras, limitando-se à contemplação dos panfletos de propaganda dos mercados.

O Véio tinha também o hábito de acumular coisas: caixas de papelão, roupas em grande quantidade (porém, sempre usava as mesmas); e nunca descartava jogos de loteria, envelopes de depósitos bancários e outros papeis, pois muitas vezes serviam para anotar informações que considerava importantes, como números de telefone.

Gostava de ler jornal e assistir aos noticiários: tinha necessidade de estar bem-informado. Entre as lembranças que as filhas têm do pai, desde muito pequenas, estão a de vê-lo sempre lendo e o seu jeito de pronunciar algumas palavras, como “especurar”, em vez de especular.

Seu Minoro amava pesquisar carros na internet e divertia-se a valer assistindo a vídeos de macacos em um site de compartilhamento. Além dos macacos, gostava muito de cachorros.

Carismático, ele tinha sempre um sorriso no rosto, que conquistava as pessoas: o barbeiro, o açougueiro, os colegas de trabalho — que torceram por sua recuperação quando estava internado e se entristeceram por sua partida. O seu Mario era pura simpatia.

Uma de suas últimas preocupações era garantir que a esposa tomasse as duas doses da vacina contra a Covid-19; sua querida companheira, que lhe fazia pequenos mimos, como levar na cama o cafezinho, que ele nunca recusava, e servir seu prato em todas as refeições.

Seu Minoru deixa esposa, filhas e amigos, e deixa saudade.

Minoru nasceu em Valparaíso (SP) e faleceu em Curitiba (PR), aos 71 anos, vítima do novo coronavírus.

Testemunho enviado pela filha de Minoru, Simone Yumi Inoue de Paula e Silva. Este tributo foi apurado por Rayane Urani, editado por Rosa Osana, revisado por Maria Eugênia Laurito Summa e moderado por Rayane Urani em 18 de outubro de 2021.