1953 - 2020
Ouvia Alcione o tempo inteiro. Matriarca da família, era "amor à moda antiga" na vida dos seus.
"Tudo tinha dedo dela, entende?" A neta Marcelle explica que a amorosa avó Nadia, carinhosamente chamada de Nem ou de Bibi, era a matriarca da família e a responsável pela união do marido, filhos e seus cônjuges, netos e bisneto.
A vida de Nadia começou na Bahia, mas ela se mudou para a capital carioca com os pais e irmão quando ainda era criança. Foi na Cidade Maravilhosa que construiu sua história e conheceu o sambista Evander.
A união entre os dois era baseada no companheirismo, no gosto pela música ― Nadia era fã número 1 de Alcione ― e por se sentirem bem em casa. Marcelle conta que o avô é caseiro e tranquilo e que a avó, mesmo sendo mulher "arretada", era do lar. Adorava cozinhar e cuidar da cozinha, "ficava por horas arrumando o que já estava limpo" e não deixava ninguém ajudar, porque só ela sabia como fazer para deixar as panelas limpas e brilhando.
Nadia e Evander trouxeram ao mundo Marcelo, Marcos e Márcio. Depois vieram os netos, como Marcelle, e o primeiro bisneto, Lucas ― na verdade, Lucas Guilherme, mas a bisavó preferia chamá-lo só pelo primeiro nome.
Ela também preferia que Lucas a chamasse de Bibi. É que Nadia se achava muito jovem para ser bisavó e tentava convencer o menino: "Eu não sou bisa, sou sua vovó". Sem sucesso, acabou criando o apelido como solução. Marcelle recorda questionamentos do filho que, na inocência infantil, expressou a falta que sente de Nadia: "Mamãe, cadê a Bibi?".
Não é só Lucas que sente saudades de Bibi. Nadia gostava de união e de dar atenção aos seus. Ela e o sr. Evander sentavam-se à mesa para tomar café e almoçar juntos diariamente e, desde que ela se foi, é "como se estivesse, de fato, faltando algo ali", explica Marcelle.
Nadia gostava de fazer festas e de ter os amigos e familiares por perto. Ajudou a criar os netos e o bisneto, sempre fazia a vontade deles e os mimava. Alimentava-os, principalmente com afeto em forma de bolo de aipim, doce de abóbora e seu famoso doce gelado, que ela só fazia no Natal e no Réveillon.
Marcelle conta que, nas festividades de 2020, a família quis manter a tradição da matriarca, reproduzindo a receita do prato composto em camadas, com um "creme delicioso feito com leite condensado, doce de abacaxi, gelatina e claras em neve para finalizar".
Quando não estava na cozinha, Nadia estava fazendo o possível e o impossível para ajudar quem precisava. Dispunha-se mesmo quando a ajuda não estava ao seu alcance. Tanta dedicação era compensada com idas ao shopping para ir às compras. Marcelle se diverte ao lembrar que comprar deixava a avó feliz.
A neta conta ainda que Nadia era "amor à moda antiga" e é assim que será sempre lembrada: como uma mulher justa, que transbordava amor, cuidava de todas antes de si mesma e que nunca se cansava de ouvir Alcione. Antes de partir, deixou um aviso: "Estou bem, cuida de tudo".
Nadia nasceu na Bahia e faleceu no Rio de Janeiro (RJ), aos 66 anos, vítima do novo coronavírus.
Tributo escrito a partir de testemunho concedido pela neta de Nadia, Marcelle Mattos. Este texto foi apurado e escrito por jornalista Larissa Reis, revisado por Lígia Franzin e moderado por Rayane Urani em 10 de janeiro de 2021.