1929 - 2021
Repousava as mãos no rosto de uma forma peculiar, como quem estivesse sempre refletindo.
Nair, durante sua jornada terrena, transformou os percalços que a vida lhe impôs em força, coragem e determinação, tornando a vida de quem amava mais doce e acolhedora.
Casou-se com Silvio, com quem viveu em uma relação de muita cumplicidade por sessenta e seis anos, até a partida dele. Na mocidade, Silvio era encantado por Nair, sua vizinha à época, sempre dizia que a namoraria. Por sua vez, Nair, alguns anos mais velha que Silvio, já era noiva. O tempo passou e eles acabaram se reencontrando. Casaram-se e da união vieram sete filhos: Odilon, Odete, Juarez, João, Eloisa, Edson e Valéria. Nair sempre gostava de frisar que os netos Jaqueline e Diego, criados por ela e por seu marido, também eram seus filhos.
Guerreira e extremamente dedicada, criou com bastante dificuldade e com todo o amor do mundo os sete filhos em uma casa pequena, sem água e nem luz. Seu marido era militar e passava mais tempo no trabalho do que em casa. Nessa época, ela buscava lenha e comprava mantimentos à pé, carregando-os como era possível em seus braços. Sempre muito preocupada com todos e com a casa. Ainda que tivesse poucos recursos, mantinha seu lar com muito capricho e zelo.
Nair e Silvio gostavam de reunir toda a família: não importava a ocasião, podia ser para um simples café da tarde ou em datas comemorativas, as épocas preferidas do casal. As roupas sempre estavam muito bem lavadas, estendidas e passadas fazendo com que o casal estivesse sempre pronto e arrumado para o encontro e comemoração que fosse.
Uma cozinheira e tanto, Nair encantava a todos com suas massas caseiras, bolachas de Natal, pães de mel, pudins e cucas – pães doces tradicionais no Rio Grande do Sul –, cuja a deliciosa receita aprendeu com a sogra. Além de cozinhar, sempre adorou costurar, conversar e contar histórias, tomar uma cervejinha e ouvir músicas de chorinho. Nos últimos anos, saía pouco de casa, passava a maior parte de seu tempo lendo e rezando.
Por anos, conviveu com a depressão até encontrar um tratamento mais adequado. Já melhor, esbanjava disposição por aí e com seus noventa e três anos sempre dizia: "Estou cada dia melhor e mais linda". Um exemplo de autoestima e amor próprio para todos ao seu redor.
A neta Jaqueline conta com carinho e presta uma homenagem à avó:
"Dos ensinamentos que carrego comigo, está o exemplo de força e coragem que sempre enxerguei nela. Minha avó sempre me incentivou também a me cuidar e a ser vaidosa. Na minha infância, fazia cachos em meus cabelos, marca registrada dela. Com ela, aprendi que não existe amor maior do que o de uma mãe por um filho."
Nair nasceu em Carazinho (RS) e faleceu em Passo Fundo (RS), aos 91 anos, vítima do novo coronavírus.
Testemunho enviado pela neta de Nair, Jaqueline Gehlen. Este tributo foi apurado por Andressa Vieira, editado por Raphaela Costa, revisado por Renata Nascimento Montanari e moderado por Rayane Urani em 25 de outubro de 2021.