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Natalina Maria Meireles

1933 - 2020

Ela era luz! Adorava uma fotografia com as plantinhas que cuidava com tanto carinho.

Uma senhora de pele muito clara, cabelos lisos e finos, olhos verdes, vaidosa e que adorava passar batom. Na juventude foi conhecida como a moça mais bonita da cidade. A bela mulher também era, nas palavras da neta Luana, “uma verdadeira guerreira”. Essa descrição não poderia ser melhor.

Natalina Maria Meireles veio ao mundo enfrentando muitos desafios. Seu irmão gêmeo, que se chamaria Natalício, faleceu no parto. Poucos dias depois, recém-nascida, ela perderia a mãe, segundo Luana, por “uma doença para a qual, na época, não havia vacina”.

A neta relata que o pai de Natalina “sem saber o que fazer” deu a filha para uma comadre cuidar. Aos 16 anos, ela quis rever o pai. Ao conhecê-lo, também ganhou um irmão paterno, Toninho, com quem manteve contato por muitos anos até que o mesmo faleceu.

Por volta de seus 20 anos, Natalina começou a trabalhar em uma oficina de mica (um grupo de minerais), na cidade de Governador Valadares. O gerente do local viria a se tornar seu marido, Vander Meireles da Silva, com quem teve cinco filhos, 12 netos e quatro bisnetos.

Depois de um tempo casados, mudaram-se para Goiânia, onde Vander trabalhou em uma mineradora. À época, moravam de favor nos fundos de uma casa. Para ajudar nas despesas do lar, Natalina começou a trabalhar para algumas famílias, oferecendo o serviço de passar e lavar roupas. “Com toda dificuldade, conseguiram criar uma família linda e do bem”, conta Luana.

Em 2005, Natalina ficou viúva. O marido partiu devido a um câncer, mas o amor deles continuou vivo. Segundo a neta, “ela perdeu a sua base e o seu alicerce, porém continuou sendo o esteio da família e a nossa matriarca, que tudo direcionava.”

Ao longo da vida, cultivou alguns hobbies, entre eles, cozinhar, cuidar de plantas e criar gatos. Amava fazer vídeos e comer "aquela bela comida caseira na sua bacia". Era comum que seus netos a gravassem ou tirassem fotografias dela junto às “plantinhas”. Chegou a ter oito gatos ao mesmo tempo e era muito apegada a uma felina em especial, de nome Menininha.

Luana lembra que a avó fazia de tudo para agradar os netos e a todos que conviviam com ela, mas tinha o defeito de ser “cabeça dura”. “Quando tinha uma opinião sobre algo, queria convencer a todos que o seu pensamento era o certo.”

A música preferida da Natalina era “If You Need Me”, do grupo musical After All. Um trecho da canção reflete a disposição que tinha em fazer o bem:

"Se você precisar de mim, me ligue
Não espere muito tempo
Quando as coisas derem errado, eu estarei lá."

Natalina será sempre considerada uma mulher iluminada e muito querida pela família “que hoje vivencia esse luto com o coração cheio de boas lembranças”, conclui Luana.

Natalina nasceu em Conselheiro Pena (MG) e faleceu em Goiânia (GO), aos 86 anos, vítima do novo coronavírus.

Testemunho enviado pela neta de Natalina, Luana Meireles Moura. Este tributo foi apurado por Andressa Vieira, editado por Isabela Andrade, revisado por Lígia Franzin e moderado por Rayane Urani em 16 de dezembro de 2020.