1959 - 2021
O que mais alegrava seu coração eram as viagens, estar junto da família e dos irmãos do Salão do Reino.
Neide trabalhava numa cantina de escola e, com seu enorme coração, cativava cada um que a conhecia. Sempre foi uma pessoa que zelou e viveu pela família, amava muito os irmãos e os filhos, Filipe e Diego, e sonhava ganhar um netinho. Com Marcos, o marido, conviveu por quarenta e quatro anos numa relação como a de qualquer casal: com amor e algumas briguinhas que deixavam o relacionamento vivo e forte.
Filipe relembra uma situação engraçada que aconteceu quando a mãe viajou para São Paulo com Eddy, seu cachorrinho: "Ela teve que esconder o Eddy dentro da mala, pois não poderia entrar no metrô com o pet. Só que ele queria porque queria sair, e ela tentava de todo jeito mantê-lo escondido na mala, empurrando com jeitinho". O cachorro comia apenas com a dona dando pedacinho por pedacinho em sua boca. Ela amava e mimava o velhinho e já doente Eddy. "Na verdade, os mimos não eram exclusividade do filho de quatro patas, Neide tinha mania de cuidar e fazer o bem para todos", conta a "conhada" Ana.
O termo "conhada" foi escolhido por Neide para chamar Ana pelo aplicativo de mensagens. "Ela dizia que 'cunhada' era uma palavra muito feia de se escrever e falar e, por isso, éramos 'conhadas' mesmo!", lembra Ana.
Apaixonada por viagens que era, Neide desejava conhecer Miami Beach, nos Estados Unidos. "Por vários anos fizemos viagens juntas, nós duas e mais alguns irmãos e irmãs. Ela amava e se enchia de dívidas: comprava bolsas, vestidos, sapatos... tudo precisava combinar! E, no final da viagem, geralmente dizia rindo: 'Ano que vem não vou, estou endividada'", entrega Ana.
Neide era Testemunha de Jeová e amava sua religião. Foi uma mulher de grande fé. A família não tem dúvida de que era uma das mulheres mais elegantes que havia no Salão do Reino. "Era muito vaidosa e gostava de coisas delicadas. Eu falava assim: 'Ai, que amorrrr!' e ela sempre respondia no mesmo tom: 'Ai, que amorrrr!' ─ era uma mania, uma brincadeira só nossa", confidencia Ana.
Neide era muito protetora e, nas memórias da família, conta-se que ela se colocava na frente do irmão menor, o Nene, para defendê-lo quando ele aprontava alguma arte e a mãe ia dar uma bronca no menino. Era como se fosse uma mãe para o irmão. Na verdade, seu extremo carinho com Nene, com a esposa dele, Ana, e com o filho do casal, Guilherme, vai deixar saudade e muitas recordações divertidas, como a de quando ela deu todas as frutas disponíveis ao pequeno, numa ocasião em que cuidou dele por alguns dias enquanto estava doentinho. "Achávamos estranho, as frutas acabavam muito rápido. Até que Neide confessou que o menino 'pedia mais e mais' e... ela dava!", conta Ana, reforçando que seu filho era um bebê e, nessa época, nem falava ainda.
Neide vai deixar saudade também em todos que se apaixonaram por ela, o que, segundo a família, daria uma lista enorme de gente, pois ela se preocupava com todo mundo e, amorosa demais, espalhava carinho e amor em todos os lugares.
"Com um sorrisão estampado no rosto, mesmo que estivesse com problemas, era presença constante na família e na igreja. Estava sempre do nosso lado, era como uma mãe para todos nós também. Todos adoravam a Neide", afirma a cunhada. "Eu acho que Deus levou pra junto d'Ele uma pessoa que só tinha amor pra dar."
Neide faleceu pouco mais de seis meses após sua irmã Cleide, a Dodô, também vítima da Covid-19. E o Memorial Inumeráveis celebra a vida e o amor dessas duas irmãs que continuam juntas. Para conhecer a história da irmã de Neide procure por Cleide Sobral da Silva.
Neide nasceu em São Paulo (SP) e faleceu em Santos (SP), aos 61 anos, vítima do novo coronavírus.
Tributo escrito a partir de testemunho concedido pela cunhada de Neide, Ana Lúcia Antonini Silva e pelo filho Filipe Cardoso Ramon. Este texto foi apurado e escrito por Lígia Franzin, revisado por Paola Mariz e moderado por Lígia Franzin em 14 de fevereiro de 2021.