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Nelson Saraiva Peres

1953 - 2020

Voz potente que transmitia mensagens de carinho e afeto por onde passava.

"Uma pessoa sensacional, com um coração enorme e preocupado com o coletivo." É assim que Guilherme resume a vida do pai. O morador de Torres, no Rio Grande do Sul, também era visto dessa forma por quem cruzava seu caminho diariamente. As caminhadas eram parte da rotina de Nelson. Aos 67 anos, não gostava de se deslocar pela cidade de carro, preferia caminhar e encontrar amigos e conhecidos para poder conversar e oferecer um de seus famosos sorrisos largos, abraços ou piadas.

A personalidade despojada convivia com um profissional obstinado pela perfeição. Nelson era locutor, cerimonialista, radialista e professor de oratória e dicção no Senac Torres. Sua voz era famosa por acompanhar os momentos felizes na vida das pessoas. Ele também era o narrador oficial do Circuito Nacional de Balonismo, misturando com alegria contagiante sua narração ao espetáculo colorido do céu. Apaixonado por informações e curioso, tinha como um dos maiores prazeres, compartilhar e conhecer histórias. Essa excelência em múltiplos conhecimentos fez com que atuasse por dezoito anos no programa Frente a Frente da Rádio Maristela. Lá conversou com deputados, governadores, artistas e cativava todos com suas perguntas e carisma. O amigo e sócio José Nilton confirma que, para Nelson, não havia tempo ruim. "Conversar era o seu forte, dominava qualquer assunto", conta Nilton.

A rádio também marcou uma das maiores conquistas pessoais da vida de Nelson. Em 2006, ele e Nilton conseguiram a outorga da Rádio Cultural FM. "Depois de oito anos de muita burocracia, foi um sonho que se realizou, uma conquista mesmo", explica Nilton. Hoje, a rádio segue no ar, comandada pelo amigo e companheiro de Nelson. Esse amor por rádio não fazia parte apenas da sua vida profissional, mas também dos hobbies diários. A coleção de rádios antigos recebia carinhos e cuidados constantes. Logo que aprendeu a fazer compras pela internet, vivia buscando novas peças e bobinas para que pudesse manter o zelo pelos objetos que cuidava. Por causa desse amor, ele também era inspiração para quem desejava trabalhar com a voz. Nunca foi a favor da competição e do egocentrismo, pelo contrário, era um agregador de pessoas e de talentos, e sabia incentivar quem tivesse paixão.

Além disso, Nelson também se aventurava no esporte. Toda semana jogava futebol com os amigos e ria quando o filho não conseguia acompanhar o ritmo dele. Era gremista e amava levar o filho e os amigos para o estádio para torcer pelo time do coração. Na paternidade, exercia o seu melhor papel: tinha uma relação de amizade e companheirismo com o filho Guilherme. Inclusive, por causa dele, Nelson se aventurou nas águas e aprendeu a surfar, fazendo disso um motivo para viajar com a esposa Marlene atrás das melhores ondas. Além da relação de família, tinham uma relação de companheirismo e de amizade. Os embates causados pela diferença de geração não suplantaram o amor compartilhado e as lembranças dos momentos vividos.

Nelson nasceu em Jaguarão (RS) e faleceu em Torres (RS), aos 67 anos, vítima do novo coronavírus.

Tributo escrito a partir de testemunho concedido pelo filho e pelo amigo de Nelson, Guilherme Raviza Peres e José Nilton Teixeira. Este texto foi apurado e escrito por jornalista Eduarda Bitencourt de Oliveira, revisado por Lígia Franzin e moderado por Rayane Urani em 29 de novembro de 2020.