1947 - 2020
Se necessário, entrava em caçambas de frutas que seriam descartadas para buscar o alimento dos filhos.
Nercília foi uma pessoa de família. Desde a infância, soube o valor do trabalho, da honestidade e da força familiar. Junto dos pais, Eupídio e Ana, e dos sete irmãos Orlinda, Alcides, Aldolfo, Emanuel, Arvelino, Diva e uma irmã que morreu criança, vítima de picada de escorpião, viveu a rotina do trabalho na roça.
Para auxiliar os pais, as crianças não puderam ir para a escola. “Mesmo sem ser alfabetizada, minha mãe não foi alfabetizada”, conta a caçula Renata, lembrando ainda que Nercília sempre seguiu os ensinamentos de Cristo e os praticou em seu cotidiano.
Amou uma vez – Robertino Pereira, o primeiro e único amor, como diz a filha Renata. Da união nasceram Adriana, Adriano, Roberto, Renato e Renata. “Em um ano, o pai e a mãe namoraram, noivaram e casaram.” Depois, o casal acolheu mais uma criança, Alycia.
A vocação para a vida em família é expressada por Renata assim: “Ela era mãe raiz!”. Ao mesmo tempo era firme e amorosa, tinha “o melhor conselho e a maior gargalhada do mundo”, mesmo com as dificuldades que acompanharam o dia a dia da família, incluindo a deficiência do filho Adriano. Para criar os filhos pequenos, contou com a solidariedade dos produtores do Ceasa. “Quando necessário, chegava a entrar nas caçambas de frutas que seriam descartadas para buscar o nosso alimento. Temos um orgulho enorme do esforço que ela fez por nossa família”, diz Renata.
Com o passar dos anos, a família foi aumentando. Vieram os netos Larissa, Lucas, Lorraine, Cauã, Lívia, Eduardo, Arthur e Letícia, numa descendência que segue aumentando, com a gravidez de Renata já após a partida da mãe. “Ela ficaria muito feliz com a chegada de mais um bebê na família”, diz ela.
Amava o povoado natal, chamado Tabocas. Sempre que podiam, ela e o marido voltavam ao município mineiro de Varzelândia, onde compraram uma casa. “Era um lugar especial, um paraíso particular. Uma vez por ano, o pai e a mãe viajavam para lá e passavam uma temporada de dois ou três meses com o Adriano”, conta a caçula.
Nercília partiu no dia do seu aniversário, deixando para o marido, filhos, filhas, netos e netas um exemplo de força e coragem.
Nercília nasceu no povoado de Tabocas, em Varzelândia (MG) e faleceu em São Paulo (SP), aos 73 anos, vítima do novo coronavírus.
Tributo escrito a partir de testemunho concedido pela filha de Nercília, Renata Rodrigues. Este texto foi apurado e escrito por jornalista Patrícia Coelho, revisado por Fernanda Ravagnani e moderado por Rayane Urani em 3 de agosto de 2021.