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Nilda Gouveia da Silva

1952 - 2020

Festeira que só, essa educadora adorava reunir, com seu marido Maciel, a família em sua piscina.

Nilda era mãe admirada, professora e diretora da rede municipal, moradora de Iguaba Grande, no Rio de Janeiro.

Caçula de dez irmãos, formada professora de educação infantil muito novinha, ascendeu na profissão e chegou a dirigir duas escolas municipais em Araruama, na região dos Lagos. A educadora, que lecionava inclusive para adultos, amava o que fazia — era vocacionada.

Depois de se aposentar, dizia que sonhava que estava dando aula.

Amava também ser a anfitriã das reuniões em família. Sua casa vivia cheia. Sempre tinha uma comidinha cheirosa saindo, uma farofa para ser provada. Nilda fazia questão de receber todos em volta da piscina.

Todo ano, com seu marido Maciel, organizava a feijoada de São Jorge e convidava todos que conhecia: amigos, parentes e vizinhos eram bem-vindos. O casal fazia camisetas com a imagem do santo, todos iam à missa e, dali em diante, era só festa.

Nildão, Vovó Nilda... tia e mãe de todos. Fazia a melhor feijoada para São Jorge.

Desde muito nova lutou para criar suas filhas e seus sobrinhos. Nilda e Maciel tiveram duas filhas: Alynne e Isabelle. Tiveram um neto, o Gabriel.

Nilda estava toda entusiasmada com a chegada de mais um neto, o Pedro, e fez coisas lindas para o enxoval desse neto que, nem ela nem o marido chegaram a conhecer. Montou o enxoval da filha Isabelle e bordou muita coisa a mão. Fez questão de levar até Itajubá, onde a filha trabalha como fisioterapeuta em um hospital.

Nilda era muito religiosa. Além da celebração a São Jorge, era devota de Nossa Senhora Aparecida e, todo ano, no dia de São Sebastião, ia às procissões. Quando alguém adoecia ou precisava fazer alguma cirurgia, Nilda reunia quem estivesse por perto, dizendo: "Vamos fazer uma oração". Ela era assim, sempre pensando nos outros.

É que nesse dia, o 20 de janeiro, ela celebrava também o aniversário de casamento com Maciel.

Eles se conheceram numa festa, na casa da irmã mais velha da moça. Maciel tinha 18 anos, estava no Exército. Nilda tinha 20, era professora. A garota estava noiva. Mas Maciel sabia que ela era sua menina. Tirou a aliança da mão de Nilda e decretou: "você vai se casar comigo, não com ele". E assim foi feito.

"De onde estiver, estará olhando por nós, na companhia do tio Maciel, seu esposo, que a seguiu dois dias depois. Ambos foram morar com Deus. Apesar de estarmos devastados, sabemos que tia Nilda e tio Maciel estão nos braços do pai!", diz, saudosa, a sobrinha Lília.

Em 1985, Maciel escreveu uma de muitas poesias para a mulher amada:

"Ela disse que ia
E não voltava mais
Se isso acontecer
Não sei o que fazer
A chuva cai,
O sol não sai,
Você se vai, me ajude, Pai!
(...)
Sem ela, não sei viver
Sem ela, não quero viver
Sem ela, prefiro morrer"

Nilda e Maciel partiram, com dois dias de diferença, pela mesma doença.

Para ler a homenagem ao marido de Nilda, procure por Maciel Vicente da Silva, neste Memorial.

Nilda nasceu no Rio de Janeiro (RJ) e faleceu em Itajubá (MG), aos 68 anos, vítima do novo coronavírus.

Tributo escrito a partir de testemunho concedido pela sobrinha de Nilda, Lilia Gouvea de Lima. Este texto foi apurado e escrito por jornalista Flávia Tavares, apurado por Michelly Lelis e editado por Lúcia Bettencourt (dois testemunhos), revisado por Lígia Franzin e moderado por Rayane Urani em 8 de julho de 2020.