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Nilton Andrade Nascimento

1945 - 2020

Um guerreiro que venceu na vida. Deixou o Nordeste trazendo na mala um pouco de tudo, inclusive amor e honestidade.

Sergipano, aos 13 anos se viu obrigado a enfrentar os desafios da vida ao perdeu a mãe. Foi para o Rio de Janeiro ainda menino, cheio de sonhos e anseios na busca de uma vida melhor, dia após dia Nilton conquistou esse mundo e deixou um grande legado por onde passou.

Sua jornada começa em uma padaria em São Gonçalo, o trabalho foi em troca de um lugar para morar nos fundos do estabelecimento, chegou até a ser garçom, mas foi na polícia militar que Nilton cresceu, ficou gigante, fez carreira com muito orgulho e alcançou o cargo de Major no batalhão. Perseverou. Sempre muito honesto, nunca mudou seus ideais durante os trinta e cinco anos na corporação.

“Meu pai já estava com uma certa idade e precisava fazer um curso oficial da Polícia Militar. O momento mais marcante foi a formatura na Escola de Oficiais de Realengo. Ele era o mais velho e foi considerado o mais inteligente e um dos primeiros alunos da turma” relembra a filha Marcelle dessa que foi uma grande vitória na vida de Nilton e que lhe custou dois anos longe da família.

Quando o assunto é amor, Nilton e Hilma viveram uma verdadeira história de cinema. Os dois se conheceram enquanto ele ainda era soldado, namoraram, mas não ficaram juntos. Hilma se casou, mas ficou viúva aos 19 anos; quando ela voltou para o Rio de Janeiro, os dois se reencontram, reataram o namoro, casaram e tiveram uma única filha: Marcelle. Nilton amava acompanhar a esposa quando ela ia ao shopping, era paciente e não se importava em aguardar suas compras; ele fazia questão de que estivessem juntos. Nilton sempre se dedicou à família, era muito carinhoso e amoroso, apaixonado pela filha, pelo netinho Mateus e pela esposa com quem permaneceu casado por quarenta e sete anos.

“Foi o melhor pai do mundo, uma pessoa de coração bom. Sou fisioterapeuta e ele me ajudava muito em todos os sentidos, mesmo já adulta, ele fazia papel de pai, me levava e me trazia dos lugares, sempre zeloso e cuidadoso comigo. Eu te amo pai, eternamente. Essa é minha homenagem a você”, declara-se Marcelle com muito amor.

Tinha algumas manias genuínas, gostava de ver jogos de futebol do Fluminense e de mexer no celular. Bastante caseiro, fazia questão dos almoços em família aos domingos. Antes da pandemia, recebeu a visita do irmão que mora na Bahia e, juntos com as esposas, foram para Búzios, viveram momentos felizes que registraram em muitas fotos. Marcelle sente que a viagem foi muito marcante para os pais, quase uma despedida sem saber.

“Estou sem palavras para dizer a falta que ele faz, nunca reclamava de nada, em 2019 começou um tratamento de hemodiálise e tirou de letra. A saudade dói como uma dor física no coração apertado onde ele sempre estará”, diz a filha.

Nilton era muito religioso, da Igreja Batista, e acreditava na vontade de Deus para todas as coisas. Marcelle conta que Deus é quem tem consolado, confortado e fortalecido sua família a cada dia. Sem revoltas, Nilton está na tranquilidade em seu estado natural, na vida eterna de suas lembranças que seguirão para sempre a cada amanhecer.

Nilton nasceu em Aracaju (SE) e faleceu em Saquarema (RJ), aos 74 anos, vítima do novo coronavírus.

Tributo escrito a partir de testemunho concedido pela filha de Nilton, Marcelle Barroso Nascimento. Este texto foi apurado e escrito por jornalista Beatriz Brito, revisado por Lígia Franzin e moderado por Rayane Urani em 6 de março de 2021.