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Norberto Caumo

1948 - 2021

Ao som dos seus discos de vinil rodopiava pela sala da casa, ora com a esposa, ora com a filha.

A paixão de Norberto pela música era contagiante e marcou a vida de Maysa desde pequena. “Eu cresci ouvindo música com meu pai, o centro das nossas vidas sempre foi a música. Lembro dos meus pais dançando na sala, lembro dele dançando comigo, a música toca a minha vida”, recorda a filha.

De origem italiana, Norberto residia em São Paulo, na Vila Mariana, onde encontrou Lisomar. Eles se conheceram na igreja, embora Norberto não fosse muito adepto de alguma religião. Em pouco tempo, eles se casaram e se tornaram os pais de Maysa, que nasceu do coração.

“Fui escolhida por Deus para ser abençoada por um casal de idosos sem filhos". Agradecida, a filha conta que lembra saudosa os aprendizados da relação com o pai: “brincávamos nos barrancos, aprendi a andar de bicicleta, ele me instruiu muitos dos valores que tenho”.

Entre esses valores, está o do amor; aquele que sobrepõe os limites, ultrapassando barreiras que parecem impossíveis de serem superadas.

Esse aprendizado se consolidou em uma data especial. Norberto lidava com questões de saúde que praticamente o impediam de sair de casa; para fazê-lo era preciso vencer o próprio medo. Isso quase não acontecia, mas o pai superou o desafio para comparecer à formatura da filha. Emocionada, Maysa lembra que, naquele dia, o pai disse até que poderia morrer em paz.

Motivada pela certeza de que o amor sempre vence, Maysa lutou bravamente para conviver os últimos dias com o pai. Tempo descrito por ela como sublime, pois teve a oportunidade de “beijar, abraçar, fazer massagem” em Norberto.

Assim como o pai, Maysa com o coração em paz, vê o amor de Norberto refletido em seu olhar e em suas atitudes como mãe e despede-se com os versos da canção de João Nogueira:

“Quando eu olho o meu olho além do espelho
Tem alguém que me olha e não sou eu
Vive dentro do meu olho vermelho
É o olhar de meu pai que já morreu
O meu olho parece um aparelho
De quem sempre me olhou e protegeu
Assim como meu olho dá conselho
Quando eu olho no olhar de um filho meu”.

Norberto nasceu em São Paulo (SP) e faleceu em São Paulo (SP), aos 72 anos, vítima do novo coronavírus.

Testemunho enviado pela filha de Norberto, Maysa da Conceição Ferreira Caumo Calazans. Este tributo foi apurado por Rayane Urani, editado por Rosimeire Seixas, revisado por Luana Bernardes Maciel e moderado por Rayane Urani em 19 de maio de 2021.