1975 - 2021
Um contador de histórias brincalhão, causava e dava boas risadas.
Ninguém o chamava pelo verdadeiro nome, pois ele era o "Chico" — ou o Tio Chico de Mariane, para quem ele foi uma pessoa especial. Com uma fé inabalável, viveu os papeis de pai, esposo, filho, cunhado, tio e amigo: “Foram vinte e seis anos de convivência. Ele e a tia começaram a namorar logo que eu nasci, eles foram juntos me conhecer no hospital".
Ele era do bem, alegre, brincalhão, que amava colocar apelido em todo mundo. Muito protetor, era o maior parceiro do mundo! Sonhador e batalhador, chegou aonde queria quando passou no concurso com que sempre sonhou. Olhava para o melhor da vida e, mesmo com muitas dificuldades, nunca desistiu de alcançar seus objetivos, buscando sempre uma vida melhor ao lado da esposa e da filha.
No trabalho, era dedicado e perfeccionista. Com a família era parceiro, devotado, amoroso e vivia alimentado por dois sonhos: construir uma casa com salão de festas para receber os amigos e montar um motor home para viajar.
Tinha a mania de dizer que se devia aproveitar a vida e a sua companhia, porque depois que ele morresse de nada adiantaria ficar chorando. Assim, como exemplo, passou seus dias vivendo da melhor maneira possível. Amava pescar e para isso não escolhia lugar, gerando histórias interessantes de suas pescarias.
Outra marca registrada de Odair era resolver tudo o mais rapidamente possível, parecendo que o mundo ia se acabar! Por essa característica, a família o chamava de agoniado, "pilhado". Ficar esperando não era com ele.
Mariane é pródiga ao descrever sua bonita relação com o tio: “A gente tinha uma ligação muito grande. Desde criança ele e a Tia Sibi, sua esposa, sempre foram considerados como pais para mim. Eu viajava de caminhão com eles, sempre que meus pais deixavam... Passávamos por muitos lugares e eu sempre ganhava sorvete. Lembro dos pinheiros, da sombra enquanto esperávamos o caminhão descarregar e carregar. Dormíamos e almoçávamos no caminhão. Eu amava demais isso. Ele também me ensinou a dirigir caminhão...”
“Éramos dois fofoqueiros!", continua Mariane, achando graça. "Ele era muito protetor, era capaz de qualquer coisa pela família e pelas pessoas que gostava. Sempre me dizia que se algo acontecesse comigo, que se um dia eu precisasse dele a qualquer momento, sairia de Blumenau e Ijuí e viria correndo. E eu sabia que podia chamá-lo.”
“Depois veio sua filha Alice, sempre tratada como minha irmã. Quando a Tia Sibi ficou grávida, eu dormia com ela, porque ele viajava bastante. Ele sempre fazia as nossas vontades, defendia a gente como ninguém. Logo que eles se mudaram para Blumenau eu fui pra lá, nas férias, para ajudar. Ganhei uma camiseta dele do Metropolitano, time de Blumenau, que ele também gostava.”
Como bom gaúcho, gostava de assar uma carninha e tomar uma cervejinha em casa. Também apreciava ir à praia e a Ijuí, pescar e assistir aos jogos do Inter — time que o levou a comemorar muitos títulos —, conservando o hábito de sempre ligar para Mariane em dias de jogo.
A sobrinha traz consigo lembranças dos incríveis veraneios na praia e das festas de Natal e Ano Novo, dias especiais e sempre muito comemorados, porque também era o aniversário dele. Nesse período, podiam passar muitos dias juntos, curtindo caraoquê, chope, cerveja e churrasco. Para acomodar todos, até barraca era montada no pátio, formando um acampamento.
Mariana apresenta um texto que escreveu para Odair no dia em que ele faleceu:
“Você sempre foi o meu preferido, nunca fiz questão de esconder... era um amor de pai e filha! Quando eu era criança, dizia que também queria ser sua filha e da Sibi. Você sempre esteve por perto e o meu amor sempre foi imenso!
Não é à toa que você e a Sibi me deram o melhor presente: a minha Alice. Só podia ser assim, o tanto de amor que eu sinto por vocês, ser retribuído da forma mais linda possível.
Foram tantas coisas boas que vivemos, que eu me perco nas lágrimas... Comemorações dos títulos do nosso Inter, as viagens de caminhão, os jogos, as pescarias, os caraoquês, nossos veraneios na praia e um milhão de alegrias que colecionei com você... em especial, os nossos dois últimos Natais.
O quanto planejamos, né? Aproveitamos e nos divertimos MUITO! Sempre que vocês chegavam era uma festa... eu ficava ansiosa, porque ali eu era feliz.... Tomamos o nosso chopinho, brincamos, brigamos, nos abraçamos e eu chorei: chorei quando tive que dar tchau para vocês de novo, como todo o ano.
Eu só tenho boas lembranças da gente e de você. Um cara do bem, alegre, parceiro, brincalhão, muito batalhador e protetor, sempre me defendia de tudo e de todos.
Eu já estava acostumada com a distância, mas o que sinto hoje não cabe em mim. Dói, e como dói... Um pedaço de mim se foi contigo.
Hoje nada faz sentido. O coração tá apertado de tanta tristeza. Eu sei que você tentou voltar pra nós, mas Deus te quis aí perto Dele...
Quero que você saiba que nós te amamos muito; eu, a Sibi, a Alice, a Meg, o pai e a mãe e toda a nossa família. Nós vamos continuar cuidando das tuas meninas.
Não tem um minuto do meu dia em que eu não pense em você e em como aproveitamos os últimos momentos juntos. Parece que estou desmanchando em pedaços e não é possível me juntar...
Vá em paz e descansa, Tio Chico!”
Mariane conclui sua homenagem ao tão querido tio, dizendo: “A falta que faz aqui é indescritível. Nossas festas de fim de ano nunca mais serão as mesmas. Sempre lembraremos de você com muita saudade. Dias tristes... Muita saudade"!
Odair nasceu em Tenente Portela (RS) e faleceu em Blumenau (SC), aos 45 anos, vítima do novo coronavírus.
Testemunho enviado pela sobrinha de Odair, Mariane Ramos Santos. Este tributo foi apurado por Lígia Franzin, editado por Vera Dias, revisado por Maria Eugênia Laurito Summa e moderado por Rayane Urani em 18 de outubro de 2022.