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Odilon Teixeira dos Santos

1967 - 2020

Amigo dos animais: cachorros, galinhas e calopsitas eram as suas paixões.

Um goiano simples, de origem rural, sabedoria genuína e fé inabalável. Adorava a natureza e os animais, principalmente suas galinhas e os cachorros Lindo e Chiara.

Quando perguntado "Como vai, senhor Odilon?", respondia bem-humorado: "Vou escapando!", aí era só risada.

Sua maior paixão era a companheira Adelina, chamada carinhosamente de "minha neguinha", com quem dividiu a vida por oito anos.

A história do casal teve início em 2012. Seis meses depois descobriram a insuficiência renal de Odilon. A partir daí, seu caminho sofreu uma reviravolta. O encarregado de soldador aposentou-se precocemente e a luta começou: sessões de hemodiálise três vezes por semana e um tratamento intenso que, aos poucos, debilitou o trabalhador. O cadastro na fila de órgãos foi feito e após sete longos anos de espera e, em novembro de 2019, o transplante saiu.

"Amava contar prosas e causos da sua infância para mim e para o Eduardo. Ele não era pai biológico do Eduardo, mas tornou-se um, afinal, o conhecia desde os 3 anos e eram melhores amigos", relembra Adelina.

Aos domingos, o filho dizia: "Conta uma daquelas histórias de quando você era menino" e, prontamente, Odilon recordava a infância. "Eram momentos mágicos. Ele contava sobre o cotidiano da família quando moravam na roça: o pai trabalhava no campo, a mãe preparava a marmita e ele levava. Também criava alguns 'patinhos do mato' e nadava no rio com os peixes", narra a cônjuge.

Além do transplante de rim, o seu grande sonho era oficializar a união com a amada Adelina. O tão esperado momento aconteceu no dia 11 de maio com a presença do filho, de duas irmãs e uma sobrinha dele.

"Ele fez questão de comprar camisa e calças novas, gostava de andar alinhado. Mesmo com o vestido simples, guardei segredo. Estava com um buquê de girassóis que eu mesma fiz, pois nos lembrava de uma viagem que fizemos e na qual nos deparamos com uma linda plantação. Ele me olhou com tanto amor! Mesmo debilitado do transplante, deu o sorriso mais lindo do mundo e disse 'Eita, muié, agora vou te passar para o meu nome'. Foi emocionante", descreveu Adelina após dezesseis dias da partida do marido.

Todos os anos iam à Basílica de Trindade, em Goiás. Odilon dizia que, quando se recuperasse do transplante, iria de Goiânia a Trindade a pé. A esposa conta que foi, em junho, após o falecimento dele, como forma de realizar o seu desejo.

De poucos e bons amigos, Odilon será sempre lembrado pela honestidade e integridade. Sua vida foi preciosa e bela. Amou, foi amado, constituiu uma linda família, ganhou um rim novinho de presente, teve uma infância feliz e manteve a fé. Afinal, o que vale nessa vida é a vida que a gente leva.

Odilon nasceu em São Luís de Montes Belos (GO) e faleceu em Goiânia (GO), aos 53 anos, vítima do novo coronavírus.

Testemunho enviado pela esposa de Odilon, Adelina Garcez Neta. Este tributo foi apurado por Lígia Franzin, editado por Júlia de Lima, revisado por Lígia Franzin e moderado por Rayane Urani em 7 de dezembro de 2020.