Sobre o Inumeráveis

Oliveira Costa

1937 - 2020

Com um coração puro, tinha sempre algo bom para falar sobre qualquer pessoa que conhecesse.

Oliveira foi um homem de extrema humildade e de uma fé inabalável, valores que o norteavam em todas as suas ações. Com seu jeito mais do que especial de encarar a vida, acreditava que havia sempre tempo para o perdão e a regeneração de qualquer ser humano. Tamanha benevolência, aliada à sua simplicidade, o fez benquisto em todos os lugares em que passou, conquistando respeito e admiração.

Cresceu em meio ao verde das pastagens e o cantar dos pássaros da propriedade rural de seu pai. Desde a infância, dedicou grande parte de sua vida ao trabalho no campo, cumprindo cada função designada com firmeza e satisfação. Entretanto, com o passar dos anos, na busca por melhores oportunidades, decidiu se mudar com toda a família para Goiânia. Lá trabalhou em uma fábrica de tecidos.

Na juventude, aproveitava seus momentos de folga para ir a festas, acompanhar a Folia de Reis, pescar e jogar carteado com um primo e um amigo, que lhe eram de grande estima. Volta e meia escutava músicas de sertanejo raiz enquanto se lembrava dos velhos e bons tempos.

Enquanto participava de uma festa, ainda na mocidade, conheceu Geni. Não demorou muito para engatarem um namoro e logo se casarem. Viveram juntos por um longo tempo até que, depois de certa idade, seguiram caminhos distintos. Da união vieram quatro filhas: Divina, Dinaedes, Rosângela e Serlanie, que sem dúvida alguma eram o seu bem mais precioso. A elas demonstrava todo o amor que havia em seu coração e, mesmo com a distância imposta pelos reveses da vida, fazia o impossível para se manter presente e devotado à família em todos os momentos.

Dinaedes tem lembranças carinhosas do pai: "Como minha irmã e eu morávamos longe, todos os anos passávamos o Natal em Goiás. Meu pai, que morava em outra cidade, fazia questão de estar conosco: quando avisávamos o dia de nossa chegada, ele já preparava a mala e se hospedava na casa da nossa irmã para nos esperar. Só voltava para a sua casa quando todos fossem embora. Contava os dias para que novamente estivéssemos todos juntos. Além disso, depois que a minha mãe partiu, sempre nos telefonava para saber como estávamos. Dizia que, mais do que nunca, naquele momento precisávamos dele".

As filhas, por sua vez, retribuíam todo esse cuidado seguindo os preceitos tão valorizados pelo pai, como o valor da honestidade, da bondade e da mansidão. Quando estavam em sua companhia, o agradavam de todas as maneiras possíveis, inclusive preparando um delicioso pudim, sua guloseima favorita.

Dedicado à fé católica, todos os domingos marcava presença na missa e sempre falava do amor de Jesus e de Nossa Senhora pela humanidade. Anualmente, ia à festa do Divino Pai Eterno, na cidade goiana de Trindade. Lá, ficava por volta de quinze dias na companhia de sua irmã Amélia, assistindo a missas e participando de procissões, que começavam na madrugada. A adoração do Altíssimo era o sustentáculo de sua vida.

Com seu espírito aguerrido, não se amedrontava diante de nenhuma circunstância. Muito pelo contrário, a fé inabalável depositada em Deus o fazia ter a certeza de que tudo caminharia conforme a vontade do divino.

Apenas uma coisa lhe causava ojeriza: baratas. A relação de inquietude com os insetos desperta inúmeras lembranças na família: "Certa vez, durante a minha adolescência, meu pai correu desesperado pela casa, tentando tirar a camisa porque uma barata entrou pela janela e pousou em suas costas. Enquanto ele gritava e pulava de agonia, gargalhávamos por toda aquela cena", conta a filha Dinaedes.

Nas bem-aventuranças presentes no Evangelho segundo Mateus, Jesus pregou que 'bem-aventurados os limpos de coração, porque eles verão a Deus'. Com olhos tão bons que enxergavam sempre o que havia de melhor em seus semelhantes, certamente Oliveira tornou-se fonte de louvor e de alegria nos Céus. Enquanto a saudade é sentimento permanente nos corações das filhas, dos netos e dos amigos que aqui deixou, a grandeza da sua alma, enfim, permitiu o seu reencontro com Deus.

Oliveira nasceu em Firminópolis (GO) e faleceu em Goiânia (GO), aos 83 anos, vítima do novo coronavírus.

Testemunho enviado pela filha de Oliveira, Dinaedes Oliveira Costa Fernandes. Este tributo foi apurado por Ana Helena Alves Franco e Andressa Vieira, editado por Andressa Vieira, revisado por Fernanda Ravagnani e moderado por Rayane Urani em 9 de junho de 2022.