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Osmarina Ferreira dos Santos

1942 - 2021

Gostava de presentear, inclusive a si mesma, com plantas e orquídeas.

Ela nasceu no interior paulista, onde o pai tinha fazenda de café e gado leiteiro. Na infância, ela e os cinco irmãos estudavam em casa, pois a professora morava na fazenda. Casou-se aos 12 anos e aos 14 engravidou do primeiro de seus 11 filhos. Na mudança para São Paulo, a família instalou-se no bairro do Pari.

Osmarina não pôde terminar a escola quando pequena, mas voltou a estudar em 1990, quando o marido faleceu. Inteligente e esforçada, finalizou o ensino fundamental, o colegial e prestou vestibular para o curso de Direito, formando-se bacharel em 2014. Durante alguns anos prestou o exame da OAB, mas não obteve sucesso, pois além do estudo, acumulava as funções de mãe e avó atuante.

Osmarina era vaidosa, gostava de se maquiar e vestia-se muito bem. Por isso, tinha diversos cartões de lojas e amava uma liquidação. Durante o ano ia comprando e guardando os presentes de Natal, pois fazia questão de dar presentes a todos: filhos, netos, genros e noras. Não era raro plantas e orquídeas estarem na lista.

Mas sua grande felicidade mesmo eram as reuniões de família — ela vibrava com elas. "Nos reuníamos em sua cozinha e era muito bom, ela sempre cozinhou muito bem", relata a filha Elza. Gostava de ler, cozinhar, assistir a novelas mexicanas e cuidar de todos na família. Nas horas vagas, era voluntária numa casa espírita.

Osmarina sempre ajudava a quem precisasse, com palavras de incentivo e fé. Foi a base de sustentação da família e jamais mediu esforços para contribuir com o sustento e os estudos dos filhos. Ajudou na criação e no estudo dos netos, e pôde ver um deles formar-se advogado e outro, médico. "Me lembro que ela contava, que houve um tempo muito difícil. Cozinhava à lenha, quando não tinha dinheiro para o gás; sempre se desdobrou para que não passássemos fome. Contava que, na volta do trabalho, ela ia de condução até o alto do Pari e de lá seguia a pé até a Vila Maria, para economizar a passagem e deixar algum dinheiro em casa para comprar comida pra gente. E fez isso durante muito tempo", relembra uma de suas filhas.

Segundo a filha, a infância dela e dos irmãos foi difícil, mas tiveram o privilégio de ter pais responsáveis e trabalhadores. Eles foram o maior presente que sua família poderia ter recebido. Presente que, de tão grande, foi também aproveitado pelos netos que com eles puderam conviver.

"Fomos privilegiados por tê-la como mãe", diz a filha cheia de saudade.

Osmarina nasceu em Bauru (SP) e faleceu em São Paulo (SP), aos 78 anos, vítima do novo coronavírus.

Testemunho enviado pelas filhas de Osmarina, Elza Maria Adolpho, Maria de Fátima e Edna. Este tributo foi apurado por Andressa Vieira, editado por Mariana Nunes, revisado por Maria Eugênia Laurito Summa e moderado por Rayane Urani em 3 de novembro de 2021.