1954 - 2020
Sonhava em viver a velhice no sítio, pescando e cuidando dos animais.
Paulo era um homem de sorriso espontâneo que via nos filhos seu maior tesouro. A família foi formada pela soma de várias histórias: dois filhos eram frutos do primeiro casamento; do segundo vieram mais dois da esposa; o casal teve então um casal de gêmeos e, por fim, a caçulinha Izadora, totalizando uma prole de sete filhos.
Em família procurava estar sempre presente e, quando sabia que alguém tinha algum desejo especial, fazia o possível para realizá-lo. Gostava também muito de opinar nas diferentes questões, mas, no seu arranjo familiar, a palavra final era sempre dada pela esposa.
De coração generoso, ouvia os problemas tanto dos amigos como dos desconhecidos e procurava ajudar as pessoas com o que ele tinha e também “com o que não tinha”, conta o filho Pedro.
Como filho de nordestinos, teve uma vida dura e de muita disciplina. Com seu exemplo, ensinou aos filhos tudo de bom e certo para que se tornassem cidadãos de bem como ele foi. De hábitos simples, gostava de ver a casa cheia de parentes e filhos.
Sempre foi muito trabalhador e nunca ficou desempregado, bem como pouco tirava férias e, quando o fazia, aproveitava o período para fazer seus “bicos”. Seu último trabalho e que ele muito apreciava, foi num carrinho de praia onde anotava os pedidos dos clientes, fazia porções e caipirinhas e ainda servia como garçom.
Seus passeios diários eram a ida ao supermercado ou sair para fazer sua "fezinha" no jogo do bicho e, às vezes, protagonizava histórias engraçadas como na vez em que o filho o levou ao shopping no dia do seu aniversário.
"Nossa, como ele ficou feliz! Parecia uma criança deslumbrada com tudo o que seus olhos viam!", lembra Pedro. Dentre as muitas atrações do local, optaram por restaurante e cinema. No primeiro, deliciou-se com uma porção de tira-gosto e uma torre de dois litros de chope, mas foi no segundo que ocorreu a situação mais engraçada.
Escolheram assistir a um filme da moda, um dos filmes da série Transformers, em 3D, mas nenhum dos dois conseguia enxergar nada do que se passava na tela e passaram todo o tempo perguntando um para o outro o que estava acontecendo no filme...
Era adepto à tecnologia e, pouco antes de falecer, estava radiante de alegria por ter um celular novo e poder interagir nas redes sociais com os familiares. É lógico que teve dificuldades para manusear o aparelho e, quando isso acontecia, recorria ao filho, que auxiliava com carinho e atenção. Nesses momentos, Pedro aproveitava a oportunidade de retribuir os ensinamentos que dele recebeu. "Foi assim que ele me ensinou a minha vida toda", diz o filho.
Paulo alimentava o sonho de viver num sítio, apenas ele e a esposa quando ficassem velhinhos, tendo poucos bichos para cuidar e um pequeno lago para pescar.
Paulo nasceu em São Paulo (SP) e faleceu em Praia Grande (SP), aos 65 anos, vítima do novo coronavírus.
Testemunho enviado pelo filho de Paulo, Pedro Henrique dos Santos Oliveira. Este tributo foi apurado por Lígia Franzin, editado por Vera Dias, revisado por Lígia Franzin e moderado por Rayane Urani em 14 de fevereiro de 2021.