1945 - 2021
Dizia sempre que é preciso ter planta e bicho em casa. Sua voz mansa engrossava ao cantar "A Volta do Boêmio".
Chamado carinhosamente de Pedrinho, tinha uma doçura no olhar e um coração gigante que eram só seus.
Nasceu na comunidade de Arienga, em Vila do Conde, município de Barcarena, nordeste do Pará, no dia 29 de novembro de 1945. Era filho gêmeo, mas a irmã morreu no parto e a mãe também faleceu algum tempo depois.
Após seu primeiro aniversário, foi adotado pela tia, uma irmã de seu pai. O casal Ester e Manoel levou o pequeno para Belém e o criou como filho. Aos 5, Pedro ganhou um irmão, Eduardo, que aos 21 morreu por afogamento. Por isso, no final das contas, foi criado como filho único. Apesar de não ser uma história alegre, Pedro adorava contar essas lembranças para os familiares.
Com Rosa, o amor da vida toda, Pedro dividiu e partilhou momentos incríveis por sessenta e dois anos. Ele viveu para a família e, junto com sua mulher com nome de flor, construiu um bonito e duradouro amor, repleto de afeto e cumplicidade. Juntos tiveram cinco filhos, que com os pais aprenderam muito sobre trabalho e honestidade. Pedro foi um pai presente e amável. Não era por acaso que, sempre que chegava tarde da noite em casa, os filhos se ajoelhavam para tirar os sapatos e meias dele. Brigavam entre si para decidir quem iria fazer aquele afago após um dia duro de serviço, que sabiam bem, aquele momento de relaxamento era mais que merecido para o pai. Atencioso, gostava de fazer mingau para os filhos antes de dormir, carinho que nunca mudou. A filha Kátia, que morava com ele, mesmo aos 51, todas as noites recebia do pai o delicioso mingau de aveia que só ele sabia fazer.
Trabalhou toda a vida em lojas do ramo de tecidos para que os filhos tivessem uma boa educação e para que nunca faltasse nada em casa. Ensinou que não importa qual seja o trabalho, desde que seja honesto, é mais digno do que qualquer falcatrua. Dizia que o ser humano sempre merece um voto de confiança. Pedro sabia, lá no fundo, que gente dá trabalho, mas ainda tem conserto, basta querer.
Apaixonado pela natureza, dizia que sempre se deve ter planta e cachorro em casa. Era louco por bicho. Adotava os cachorros da rua e levava pra casa. E, para os que não podia levar, deixava uma vasilha com comida na porta para, ao menos, alimentar. Era um homem de hábitos simples. Amante da terra, gostava de plantar e limpar o jardim. Não importava o tamanho da alegria ou do problema, Pedro só queria ter 10 reais no bolso pra comprar o açaí dele. Tomava todos os dias, sem hora marcada. Fosse almoço ou jantar, lanche da tarde ou café da manhã, bastava achar uma tigela dando sopa por aí que lá estava ele se deliciando. Adorava ouvir Roberto Carlos e Nelson Gonçalves, e até engrossava a voz pra cantar "A Volta do Boêmio".
Católico, era devoto de São Lázaro, protetor dos animais, e de Nossa Senhora de Nazaré, padroeira dos paraenses. Aprendeu com os santos que o bem que se faz aos outros, quando de coração, no final sempre encontra uma forma de retornar a quem o fez.
Era um velhinho teimoso, mas muito cativante. Conquistou muitos corações ao longo da vida. Corações que aprenderam com o doce Pedro o valor de uma amizade sincera. Intenso e amoroso, não sabia ser metade. Pedro doava-se por completo a quem amava. Tinha um jeito único de ser, sempre caminhava arrastando as sandálias, era dono de um sorriso tímido e de uma voz mansa que encantava todos com lições de honestidade e bondade. Um homem baixinho, de sabedoria imensa e coração gigantesco.
O paraense de coração aberto deixa saudade em todos que o conheceram um pouquinho e que se encantaram de montão com sua simpatia e afeto. Familiares e amigos sentem saudade todos os dias e os animais ainda procuram por aí onde foi parar o senhor de cabelos brancos que os alimentava com comida e afeto.
De lá, Pedrinho segue cuidando e intercedendo pelos seus, sabendo que a saudade é intensa, mas não é eterna. Quando chegar a hora todos se reunirão novamente para ouvirem a voz mansa de Pedro, ao som de Roberto Carlos ou Nelson Gonçalves, e se deliciando com uma boa tigela de açaí.
Enquanto isso, a Senhora de Nazaré e o protetor dos animais podem descansar por um instante, pois agora já não precisam fazer tudo sozinhos. Receberam uma ajuda de sorriso tímido e que só anda arrastando as sandálias pelo Céu.
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Carta aberta da filha Cristina para o pai:
Ele era brincalhão. Amávamos o fato de ele ser nosso Didi da vida real. Tinha bastantes amigos e todos o amavam.
Comerciário e aposentado, adorava a profissão e os animais. Era dedicado, amado pelos filhos, netos, bisneto e esposa.
Vamos sentir muita falta, a saudade é enorme.
Pedro nasceu na Vila do Conde, em Barcarena (PA) e faleceu em Belém (PA), aos 76 anos, vítima do novo coronavírus.
Testemunho enviado pelas filhas de Pedro, Katia Regina Silva da Silva e Cristina Nazaré Silva da Silva. Este tributo foi apurado por Rayane Urani, editado por Bárbara Aparecida Alves Queiroz e Talita Camargos, revisado por Lígia Franzin e moderado por Lígia Franzin em 6 de abril de 2021.