1927 - 2020
Dona de uma força extraordinária, enfrentou as agruras da vida sem perder a doçura.
Pierina enfrentou duros golpes, como ver partir muito cedo dois de seus três filhos. Mas ela se reergueu corajosamente, quantas vezes foi necessário, sem nunca perder seu jeito amável e sereno. Era dona de um tipo de força inexplicável que a impedia de transformar as tempestades da vida em amargor.
Passou toda a vida na mesma cidadezinha onde nasceu, no interior de São Paulo. Viu o mar uma vez na vida, já na velhice, e ficou espantada com a quantidade de água que avistou no horizonte.
Falava com um pouco de sotaque que herdou do convívio com os pais e sogros italianos. O "ão" sempre virava "on": era "pón", em vez de pão, "portón", em vez de portão. Vez ou outra soltava alguma expressão do idioma que aprendeu com sua família.
Levou uma vida simples, totalmente dedicada aos filhos, marido e aos afazeres do dia a dia no sítio onde morou a maior parte da vida. Quando mais nova, trabalhou pesado no cultivo de café e gostava de passar o tempo livre fazendo crochê ─ uma perfeita analogia para o equilíbrio entre a força e a doçura tão marcantes em sua personalidade.
E quando o assunto era cozinhar, quantas memórias saborosas ela proporcionou! Não bastava preparar os pães, ela os moldava em formato de pássaros para agradar as netas. As sopas de feijão, os bifes feitos na chapa do fogão a lenha, tudo continha aquele ingrediente especial de quem cozinha com amor. Mas entre tantos quitutes deliciosos, os queijos eram sua especialidade. Toda gente da cidade ia comprar.
Seus últimos anos, foram vividos com muita tranquilidade: gostava de passar as manhãs sentada no banco da varanda, na companhia das cachorrinhas da família. E sempre tinha alguém que parava no portão para bater um papo com ela. Era impressionante como ela conservava suas memórias! Narrava com detalhes passagens de sua vida e as histórias da família.
Mulher de fé inabalável, todo fim da tarde mantinha seu compromisso de sentar-se na poltrona, em frente à TV, para assistir à missa e rezar o terço.
E mesmo na casa dos 90 anos, aprontava algumas peripécias que depois viravam motivo de risada entre a família, como comer escondido tudo que não podia por conta do diabetes. Era comum encontrar migalhas de torresmo que ela sorrateiramente armazenava no bolso de seu casaco para saborear longe dos olhos de seu filho e nora, com quem morou nos últimos anos.
Dona Pierina era assim, essa figura matriarcal, sempre preocupada com todos. Viveu seus 93 anos dignamente até o fim. E ainda teve a chance de conviver com seu bisneto, o "nenê" a quem amava sem medidas.
Pierina partiu no dia 29 de setembro de 2020, exatamente três meses depois de completar 93 anos. Ela não é um número, ela foi e sempre será um exemplo de força e amor para sua família.
Pierina nasceu em Dobrada (SP) e faleceu em Matão (SP), aos 93 anos, vítima do novo coronavírus.
Tributo escrito a partir de testemunho concedido pela neta de Pierina, Roberta Messa Benzati. Este texto foi apurado e escrito por Lígia Franzin, revisado por Luana Bernardes Maciel e moderado por Rayane Urani em 20 de janeiro de 2021.