1954 - 2021
Compartilhou ideias e sentimentos pelas linhas dos contos, crônicas e poesias que escrevia.
Railda era uma mulher inteligente, intensa e verdadeira. Com ela não havia ideias nem sensações rasas — vivia com intensidade. Amava profundamente sua família e acreditava que ela era parte de sua existência. Deixava seus sentimentos transbordarem em suas relações e em cada linha das poesias e crônicas que escrevia. Em seus textos, expressava toda a força e grandiosidade que havia em seu coração.
Nasceu em Salto da Divisa, no Vale do Jequitinhonha, em uma família de oito irmãos. Cresceu em meio a pobreza e dificuldades, e deixou sua cidade natal carregando no peito o desejo de retornar. Desde cedo mostrou jeito com as palavras: escrevia poesias, crônicas e contos, um dom que continuou em desenvolvimento durante a graduação de Jornalismo, e em sua carreira profissional na Assessoria de Comunicação da Prefeitura de Montes Claros.
Railda não precisava de aplausos nem plateia — era uma mulher simples, desprovida de vaidades e de apego material. Gostava mesmo era de cultivar o hábito da leitura e deixar as palavras darem vida, forma e movimento a sentimentos e ideias por meio de crônicas e contos. Sua grande inspiração era sua mãe, que além de exercer o ofício da maternidade era professora.
Construiu uma relação de amizade, cumplicidade e amor com Valdir, selada pelos votos feitos no casamento. Permaneceram unidos por mais de trinta anos, até o dia da partida precoce de Valdir. O casal teve quatro filhos: Leonardo, Leiliane, Leandro e Lidiane. Railda era uma mãe dedicada e amorosa. Leiliane recorda com nostalgia das viagens que fez quando era criança junto da família, especialmente de quando foi ao Paraguai com os pais e os irmãos, de ônibus, com direito a conhecer as Cataratas do Iguaçu — um cartão postal do Brasil.
Quando os netos Mayra, Ana Luiza, Caio Valdir, Antônio e Lara chegaram, seus atributos de mãe e escritora ficaram mais refinados. Railda gostava de incentivar os pequenos a ler, ensinava-os sobre o valor da imaginação e dos sonhos. Presenteava-os com livros e sempre que podia lia para eles estórias incríveis. E não deixava de marcar presença na primeira fila em todas as apresentações escolares dos netos.
Railda valorizava muito a família. Entendia que os seus irmãos, os filhos, os netos e os sobrinhos eram a extensão da sua existência. Eram pessoas que não podiam faltar nas datas comemorativas e em almoços de domingo, por isso fazia questão de tê-los todos por perto.
Railda acreditava que as músicas precisam ser repletas de poesia e deviam tocar a alma e o coração. Sua canção favorita nos últimos dois anos era "Trem-Bala", escrita e interpretada por Ana Vilela. Uma canção que representa muito bem Railda:
“[...] É sobre cantar e poder escutar mais do que a própria voz
É sobre dançar na chuva de vida que cai sobre nós
É saber se sentir infinito num universo tão vasto e bonito
É saber sonhar
E então fazer valer a pena
Cada verso daquele poema sobre acreditar [...]”
Os maiores ensinamentos que ela nos deixou foram demonstrados em sua forma de viver: aproveitando a vida, vivendo cada dia como se fosse o último e desapegando-se de bens materiais. Leiliane recorda que desde o começo da pandemia Railda dedicou-se a escrever seus textos como se soubesse que a despedida chegaria. "Falava sobre abraçar, chamar-nos para perto, nos aconchegar, entrelaçar"... Como no trecho abaixo:
"E quando as luzes se apagarem no show da vida, nada mais seremos, nada mais pensaremos, ou levaremos... O que ficará certamente, será o último sorriso mesmo roubado, de quem um dia amamos de verdade" — Railda Botelho Fernandes.
Railda nasceu em Salto da Divisa (MG) e faleceu em Montes Claros (MG), aos 66 anos, vítima do novo coronavírus.
Testemunho enviado pela filha de Railda, Leiliane Botelho Fernandes. Este tributo foi apurado por Andressa Vieira, editado por Claiane Lamperth, revisado por Maria Eugênia Laurito Summa e moderado por Rayane Urani em 29 de junho de 2022.