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Raimunda Maria Cunha da Silva

1951 - 2021

A saudade chamou e Vó Raimunda escutou; juntou suas coisas e foi-se embora para estar junto de sua amada neta.

Raimunda foi uma mulher muito amada. Forte, doce, mas acima de tudo, dona do dom de acolher e de cuidar, aquela que unia a todos como um imã.

Na sua vida de luta, construiu uma família linda ao lado dos cinco filhos: Francisclea, Fredson, Francilvania, Francilea e Flávio.

Amava cozinhar para a família, principalmente para os netos e bisnetos, seus amores, sementes da sua história e a forma encontrada pelo universo de retribuir tudo o que Raimunda sempre ofereceu a todos ao seu redor: seu amor.

E a vida foi generosa, como não poderia deixar de ser. Preencheu sua existência com 15 netos: David, Roberta, Jessica, Vinicius, Andressa, Fernando, Matheus, Dayanne, Gustavo, Bianca, Beatriz, Felipe, Mariana, Kauã e Flávia e mais 9 bisnetos: Maria Eduarda, Benjamim, Maria Júlia, Victor, Maria Victoria, João Benício, Sofia, Letícia, Pedro e Lucas.

Muito amorosa, não era tarefa difícil para ela pensar no próximo, mesmo que às vezes, isso significasse deixar de pensar em si mesma. Tudo o que preparava, já queria sair distribuindo, fosse para pessoas da família ou não. Assim era Raimunda, cuidadosa com todos, um ser de luz.

Única evangélica da casa, encantava a todos pela alegria que sentia em ir à igreja, sempre toda arrumada e cheirosa para fazer o que tanto gostava: estar ao lado de Deus.

A cozinha também era um lugar de muitas alegrias para Raimunda. Como ela gostava desse canto da casa. Tudo tem seu jeito, seu cheiro! “Um dia longe da cozinha era motivo para ela adoecer. Se precisasse de repouso, o mais doloroso para ela era ficar longe de suas panelas”, brinca a neta Beatriz.

Beatriz teve o privilégio de crescer ao lado de sua avó, o que fez nascer entre elas um elo lindo de se ver, uma bênção, um presente de Deus.

“Quando eu era bebezinha, morando com meus pais em São Luís, no Maranhão, ela morava no Pará junto de seus familiares. Eu sentia muitas saudades dela e todos os dias ligava para cantar a música ‘Você não vê’, da banda ‘Limão com mel’”, conta a neta.

A música dizia:
“Eu só sei
Que minha vida não tem mais valor
Sem você é solidão
Já pensei
Eu já me decidi que não tem jeito essa paixão
Então me diz por quê?
Você não vê
Que esse coração
Sofre e diz que não
Não, não vá... Não, não vá... Não”, lembra Beatriz.

Um belo dia, Raimunda não aguentou mais de saudades da neta, largou sua vida no Pará. Deixou emprego e família, para ficar juntinho dela. E assim viveram, dividindo os dias, dividindo a vida.

“Vó, eu te amo infinitamente e por mais que a minha relação com Deus não fosse tão forte, desde que você se foi, falar com Ele tem me trazido a mesma paz que eu sentia ao seu lado. Sentimos muitas saudades, não está sendo fácil seguir sem você, mas o nosso amor tem nos dado forças”.

Que o abraço dado em sonho, no quintal de casa, continue aquecendo o coração de Beatriz. Que seja a mais vívida experiência, e a certeza de que o sonho foi uma mensagem da avó Raimunda para garantir segue ao seu lado, cuidando e acolhendo, como sempre fez em sua linda passagem por essa vida.

Raimunda nasceu em Aldeias Altas (MA) e faleceu em São Luís (MA), aos 69 anos, vítima do novo coronavírus.

Testemunho enviado pela neta de Raimunda, Beatriz Cristine Silva Lopes. Este tributo foi apurado por Rayane Urani, editado por Fernanda Queiroz Rivelli, revisado por Ana Macarini e moderado por Rayane Urani em 22 de agosto de 2021.