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Raimunda Marrocos dos Santos

1946 - 2020

Ao som de Roberto Carlos, lidou com a saudade da terra natal em busca de novos sonhos.

Quantas histórias, lembranças, sorrisos e pessoas especiais cabem em uma vida? Dona Raimunda foi uma dessas pessoas especiais, que cativava a todos com o jeito simples e terno de ser. Sempre dispondo de um abraço acolhedor, de uma palavra amiga, muitas vezes acompanhada de um café quentinho e dos salgadinhos mais saborosos do mundo, principalmente porque em tudo o que fazia colocava o mais importante dos ingredientes: o amor.

Aliás, quanto amor e bondade cabia no seu coração. Viúva, mãe de cinco filhos, suportou a dor de perder uma filha aos 23 anos, celebrou a dádiva de adotar uma criança que encheu de alegria e maternidade o seu lar, cuidou do sobrinho como uma mãe, cumprindo a promessa feita ao irmão e a sua cunhada. E nos momentos de fragilidade e velhice, se dedicou a mãe, estando ao seu lado até o último dia de vida dela.

Sua família sempre foi o seu bem mais precioso. Em Francisco, seu irmão mais velho, encontrava proteção. Para Maria, sua irmã mais nova dedicava cuidado e carinho. Certa vez, jovem ainda, Francisco a impediu de ir a um baile, causando desgosto. Um dia, resolveu relembrar a história que o irmão não mais lembrava, riram e se divertiram rememorando.

Foi a avó querida de seis netos, a mãe amorosa, a sogra atenciosa. Tinha o dom de cozinhar delícias, aqueles que provavam, amavam. Fazia a lasanha mais recheada desse mundo e um bolo de mandioca de encher a boca d'água, e também apreciava degustar um bom vinho.

Nordestina do estado do Ceará, terra do "Padre Cícero", possuía uma forte religiosidade, característica da sua região e da sua criação. Foi uma mulher católica e de profunda fé. Fé que a fazia acreditar sempre em dias melhores, ver positividade nas adversidades e manter o sorriso cativante no rosto.

Ria da vida e para a vida! Contava que quando foi embora do Ceará, no rádio do ônibus tocava a música “E por isso estou aqui”, do Roberto Carlos, de olhos atentos a paisagem que ficava para trás a cada quilômetro, sonhava com uma vida melhor, ainda que o coração apertasse de saudade da sua terra.

Fã de carteirinha do Roberto Carlos e do Daniel, cantava junto todas as músicas, tendo a oportunidade de assistir a alguns dos shows, seus olhos brilhavam de emoção.

"Durante a sua internação, minha mãe pediu que eu comprasse bombons de chocolate. Queria distribuí-los para a equipe de profissionais da UTI, pois a tratavam com carinho e cuidado. Eles a chamavam de "vó Rai", me contou sorrindo. A mãe era assim, doce e cativante, dela ficam as boas lembranças, os ensinamentos e uma saudade que começa a crescer e sei que nunca terá fim." Declarou o filho Edmar.

Dona Rai foi a luz que iluminou vidas e cumpriu com a sua missão de tornar esse mundo melhor e mais cheio de alegria.

Raimunda nasceu em Santana do Cariri (CE) e faleceu em Santos (SP), aos 74 anos, vítima do novo coronavírus.

Testemunho enviado pelo filho de Raimunda, Edmar Lima de Souza. Este tributo foi apurado por Andressa Vieira, editado por Leiana Isis de Oliveira, revisado por Luana Bernardes Maciel e moderado por Rayane Urani em 17 de junho de 2021.