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Raimunda Moraes do Nascimento Soares

1951 - 2021

Fazia questão de ir ao mercado em sua bicicleta cor-de-rosa. Parava inúmeras vezes para conversar com os amigos.

Sorridente, generosa, amiga de todos e sempre muito dedicada em tudo que fazia, ela era para muitos a Dica Moraes, para alguns a querida tia Dica e para outros a amada e inesquecível madrinha Dica.

Já aos 16 anos iniciou com dedicação sua empreitada na arte que mais futuramente a tornaria um referencial em sua cidade: tornou-se uma costureira prestimosa, renomada pelos seus traços e ajustes perfeitos. Era também uma serva fiel de Deus e prestava serviços nos grupos pastorais como legionária e ministra extraordinária da Sagrada Eucaristia. Também colaborava na confecção das vestimentas dos padres, dos coroinhas, dos mestres de cerimônia e dos príncipes e princesas dos festejos da cidade. Em cada atividade deixava as marcas de seu esmero e amor pelos detalhes.

Era uma pessoa que tinha o perfume de Deus, amou verdadeiramente a Igreja e o próximo, sabia acolher com afeto e sempre com sorrisos. Gostava de costurar ao som de seu rádio e, à noitinha, sentava-se em sua cadeira de espaguete num canto da sala para assistir TV. "Acabava caindo no sono por ali mesmo, sempre!", conta a filha Liziane.

Foi mãe e avó zelosa. As quatro filhas e os quatro netos, bem como todos que tiveram a oportunidade de partilhar de sua presença, eram frequentemente lembrados sobre a importância de amar a Deus sobre todas as coisas. Soube conduzir cada um deles no caminho da vida e da fé. "Era conselheira e tinha sempre as palavras certas, nos momentos exatos", diz Liziane.

"Minha mãe viveu com alegria e intensamente cada instante de sua vida. Com muita delicadeza de suas mãos, soube transformar os sonhos dos seus inúmeros clientes com sua arte", relembra Lidiana, outra filha de dona Dica.

Todos os dias ela pedalava até o mercado, o caminho era interrompido muitas vezes para dar lugar a bate-papos com o pessoal que encontrava pelo caminho. O horário das 18h era reservado exclusivamente para a reza, que era feita na mesma cadeira verde de espaguete, no cantinho da sala, onde ela também tirava seus breves cochilos.

Dica Moraes carregava consigo a alegria de viver, sempre com um sorriso singelo estampado no rosto. Aos domingos, preparava um almoço regado a feijão tropeiro para receber filhas e netos, aos quais dispensou muito amor durante toda a vida.

Ela soube viver a vida com leveza, caridade e simplicidade. Soube frutificar o seu melhor: o amor. E esse amor nunca acabará!", conclui Lidiana.

Além das filhas, genros, netos e demais familiares, Raimunda deixou também muitos amigos e uma comunidade inteira com profunda saudade em seus corações.

Raimunda nasceu em José de Freitas (PI) e faleceu em Teresina (PI), aos 69 anos, vítima do novo coronavírus.

Tributo escrito a partir de testemunho concedido pelas filhas de Raimunda, Liziane Kelly do Nascimento Soares Santiago e Lidiana Moraes Soares. Este texto foi apurado e escrito por Lígia Franzin, revisado por Maria Eugênia Laurito Summa e moderado por Ana Macarini em 15 de fevereiro de 2022.