1927 - 2020
Dedicava o seu tempo para contar sua história. Na sala de casa, organizava o forró da família.
Raimundo teve de sair do Ceará para tentar a sorte em São Paulo. Ainda novo, precisou daquilo para sustentar a família. Apaixonado pelas músicas de Luiz Gonzaga, Raimundo pensava em "Asa Branca" ao lembrar de Zilda, sua esposa, e seus dois filhos.
A família veio acompanhá-lo pouco tempo depois. Tiveram de lutar para conquistar um espaço, mas as coisas deram certo.
Raimundo trabalhava como chapeiro. Foi um dos primeiros funcionários da rede Habib's na Rua Cerro Corá, no Bairro da Lapa. Aposentou-se executando aquela função, mas não quis parar.
Ao não conseguir trabalhar formalmente, aos 80 anos, Raimundo entendeu que precisava fazer alguma coisa para manter os dias úteis. Virou catador de papelão na rua, mesmo sem precisar. Alguma coisa nele o fazia querer trabalhar, trabalhar e trabalhar.
Na casa que construiu para si e para a família, no Jardim Dracena, em São Paulo, se orgulhava de contar a sua própria história. Saía para conversar e contava um pouquinho a cada um, fosse da família ou desconhecido.
"Foi por causa do meu avô que eu me tornei músico", lembra o neto de Raimundo, Rafael. "Ele fez uma sala grande em sua casa para que as pessoas dançassem ouvindo forró. Sempre vou lembrar das dicas que ele me passava sobre música".
Raimundo nasceu em São Benedito (CE) e faleceu em São Paulo (SP), aos 92 anos, vítima do novo coronavírus.
Testemunho enviado pelo neto de Raimundo, Rafael Araujo dos Anjos. Este tributo foi apurado por Josué Seixas, editado por Josué Seixas, revisado por Didi Ribeiro e moderado por Rayane Urani em 16 de junho de 2020.