1949 - 2020
Caboclo com orgulho, mestre de gerações, defensor do meio ambiente, da cultura indígena e das artes.
Ensinar era a vocação nata de Raimundo. Professor Ray lecionou história, geografia e artes para incontáveis pessoas em sua amada cidade, Amaturá. Foi lá também que exerceu o cargo de vereador e secretário do Meio Ambiente e Cultura.
Nas horas vagas, plantava suas mudas e também não podiam faltar os churrascos em família, junto à dona Lindomar, sua esposa, carinhosamente apelidada de Linda, e seus filhos Felipe, Luciana e Bruno.
O primeiro presente da neta Bella, foi ele quem deu: um cachorro de pelúcia de nome Bonicão, com quem ela faz questão de dormir, todas as noites.
Segundo seu filho Felipe, Raimundo “veio de uma família humilde, do interior do Amazonas. Era um menino, caboclo e sonhador, que venceu na vida. Mas, sua maior luta, sempre, foi fazer sua família feliz, e ele conseguiu.”
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O professor Raimundo doou-se à sua cidade e só tinha uma coisa que amava mais que o trabalho: sua família.
Raimundo ou professor Raimundo, como era conhecido na sua cidade, nasceu em um berço de palha simples, na zona rural da cidade de Amaturá. Filho de agricultores, desde criança o menino da roça foi um grande sonhador. Ganhou asas ainda na tenra idade, quando foi estudar em outro município, que oferecia maiores recursos. A partir daí, começou a traçar o seu futuro.
Retornou à sua cidade natal formado professor, onde contribuiu não somente com a educação, mas também com a cultura e a arte do município. Foi idealizador de muitos projetos, inclusive do primeiro cinema da cidade, o Cine Rax. Em todas as movimentações culturais estava ele presente, junto com o seu arsenal de ideias e criatividade. Assim, ganhou a simpatia de muitas gerações de alunos, os quais sempre fez questão de incentivar.
Era um exímio amante da natureza. Valorizava as coisas naturais e colecionava artesanatos da matéria-prima que advinha da sua terra. Tinha muito orgulho de ter plantado as árvores que hoje enfeitam a praça principal da sua cidade. Sua dedicação pelo seu povo ultrapassou a docência, e foi assim que ele foi eleito vereador e posteriormente secretário do meio ambiente.
Só existia uma coisa que Raimundo gostava mais do que seu trabalho e a sua cidade: sua família. Um amor incondicional, construído ao lado de sua esposa Linda e dedicado aos seus três filhos: Felipe, Luciana, Bruno e, posteriormente, estendido à sua neta Bella. Educou e cuidou com zelo, semeando a humildade e generosidade com o próximo.
Por eles, deixou para trás a alegria e tranquilidade da vida no interior, pelo barulho e incertezas da capital Manaus. Usufruindo posteriormente da sua aposentadoria, acompanhou de perto cada novo passo dado pelos seus filhos. E, sempre permitindo a liberdade de suas escolhas, pôde vê-los formados. Em todos os novos desafios e mudanças de suas crias, fazia questão de participar, sempre estava lá para abrandar qualquer dificuldade do caminho.
Raimundo também amava viajar. Nos últimos anos aproveitou para se aventurar. Viajou sozinho, com amigos e com a família. Sempre com a sua câmera, registrando em fotos ou narrando em vídeos a história de cada lugar novo, que até então, ele só conhecia dos livros.
Uma de suas maiores qualidades era ser um bom anfitrião. Sua casa sempre foi o local de acolhimento para seus conterrâneos, os quais ele fazia questão de acompanhar e ajudar. Para conhecidos e familiares, era um bom amigo.
Sua alma sempre foi de um menino brincalhão, por isso, não há quem não o tenha conhecido sem uma história engraçada para contar, onde ele era sempre o protagonista. Um de seus maiores prazeres era reunir a família para relembrar suas histórias e causar muitos risos. Raimundo fez da sua passagem aqui um enorme palco de alegria. Por isso, estará sempre vivo em suas histórias, que continuarão sendo contadas.
O seu maior legado, sem dúvida nenhuma, foi o amor.
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Professor Raimundo para seus eternos alunos, Raimundão para a família e os amigos.
Tinha orgulho de falar que conseguiu através da sua profissão, professor de Geografia, formar seus três filhos em universidade pública do Amazonas, ao lado de sua amada Linda.
Sua mais recente diversão era ir a uma livraria comprar todos os livros que sua única neta Bella escolhia. Pois sempre foi firme ao falar que a educação começa em casa.
Não tem como contar o número de pessoas que ele ajudou. Foi vereador de sua cidade natal por duas vezes e secretário do meio ambiente e cultura.
Como professor de Geografia, adorava viajar - seja pelo rio, pelo ar, pelas estradas - cruzando fronteiras e chegando aos picos. Falava que precisava conhecer os lugares que ele ensina em suas aulas.
Sua casa em Manaus era casa de todos, pois abria o portão dela e do seu coração para acolher quem precisasse. Ele era um ser único.
Sempre atrapalhado, aceitava brincadeiras de todos, levando pro lado da alegria, que foi sua marca registrada. Tudo era motivo de festas pra ele, regadas com muita comida e muito amor.
A sobrinha Amanda reflete: "O que nos deixa triste é que ele ainda tinha muito a viver pois, no auge dos seus 70 anos, nunca dizia que tinha mais que 45. Um eterno jovem! E o que nos deixa alegres é que ele viveu essa vida como ninguém, realizou muitos sonhos. E o seu legado maior? Fazer o bem sem ver a quem."
Raimundo nasceu em Amaturá (AM) e faleceu em Manaus (AM), aos 70 anos, vítima do novo coronavírus.
Tributo escrito a partir de testemunho concedido pelos filhos e pela sobrinha de Raimundo, Felipe, Luciana Araújo Bonifácio e Amanda Akemi Araujo. Este texto foi apurado e escrito por jornalista Jéssica Avelar, revisado por Rosana Forner, Lígia Franzin e Didi Ribeiro e moderado por Rayane Urani em 4 de julho de 2020.